Dubrovnik -uma história. Uma cidade, uma república, um livro.

Fui a Dubrovnik. Nunca ouvira falar de Dubrovnik como um verdadeiro destino turistíco. Pasmei, claro, não só porque o é, mas porque o é muito. Agosto, gente, gente, gente a mais. Há uma espécie de magia naquela cidade que, infelizmente, a invasão de turistas trata de «plastificar», conferindo-lhe um algo desadequado sabor a museu.
Um momento de inspiração, uma livraria, olhei distraída a montra. Livros em croata, pois obviamente...mas também em inglês. Com atenção, agora: «Dubrovnik, a history». Nem queria acreditar. Entrei, desfolhei, perguntei o preço em euros que já me escasseavam as kunas (meia dúzia delas na carteira não resolveriam o problema). O autor, Robin Harris, não me dizia nada, mas naquele exacto momento soube que Dubrovnik ía poder ganhar densidade, que ía saber, saber mesmo, como é que aquela cidade chegara onde/quando eu ali estava. Pensei que bastaria, para tal, uma mera leitura selectiva daquelas 500 páginas. Neste ponto,enganei-me. Li-o praticamente todo na semana seguinte.
É um livro empolgante, ademais, num inglês absolutamente acessível. A história de uma diplomacia rendilhada, engenhosa e vigilante, levada a cabo pela democrática República de Ragusa (descaindo depois no nepotismo), no afã de defesa da assombrosa prosperidade de uma nação minúscula, na eterna dúvida entre a mera autonomia e a verdadeira independência. Veneza - a Sereníssima -,o império muçulmano, o austro-húngaro, os sérvios, Napoleão e até os espanhóis, todos pretenderam obter a lealdade da pequena cidade de Dubrovnik que um a um,dois a dois às vezes punha cuidadosamente à custa de algumas vezes pesados tributos e sempre de muitas promessas que as mais das vezes cumpria com dificuldade ou não lograva mesmo cumprir.à Harris relata tudo de forma credível nas suas causas e consequências, não descurnado os relatos da vida quotidiana, o que faz do livro um fresco deslumbrante e que se lê num fôlego. O livro ganha contornos particularmente cuidados no que respeita ao dia do terramoto de 1666, que aliás não consegue atingir na descrição da guerra de 1991-95, que acaba por passar também por ali, mas de forma rápida e não muito esclarecedora. Vale a pena.

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