Saber que apenas sou


Se alguém por mim passou,
O seu caminho foi.
Nenhuma dor me dói;

Neste canto me isolo;

Dá-me tanto consolo

Saber que apenas sou!


Reduz-se tudo a isto;

Suavíssimo perfume

De heliotrópio morto.

Traz-me tanto conforto
Saber que só existo
Aqui, junto do lume!


E o vento que, lá fora,

Deita as folhas em terra,

Não me abala sequer.
Ah, quanto bem encerra
A minha ideia, agora,

De estar num canto, e ser!


«Natal», Cabral do Nascimento in «Natal...Natais» (Antologia de Vasco Graça Moura)

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