Azar de Lineu

Estava ontem a passar uma vista de olhos sobre o bem elaborado livro/catálogo «A evolução de Darwin» da Fundação Calouste Gulbenkian - cuja exposição ainda não tive lamentavelmente a oportunidade de visitar - quando deparei com aquilo que já sabia, mas que guardava num recôndito baúzinho da memória: a importância do naturalista sueco Carl Lineu (1707-1778) na organização do conhecimento científico, tal como o percepcionamos ainda hoje em dia.

Como ali se diz, ele «foi a pessoa mais importante e influente na classificação e descrição dos diferentes organismos vivos». E acrescenta-se: « Lineu propôs um novo método de classificação para os minerais, para as plantas e para os animais. O seu sistema assentava na ordenação da diversidade biológica em categorias hierarquizadas e na atribuição aos grupos de de categoria eepecífica de nomes constituídos por um par de palavras latinas (por exemplo: homo sapiens). Este sistema é conhecido como o sistema binominal de nomenclatura biológica».

Para quem como eu tenha a mania de colocar a vida toda em «caixinhas» para se conseguir organizar conceptualmente perceberá porquê que me lembrei de chamar aqui os méritos deste senhor.

Deve-se à irritação que me provoca a expressão «vulgar de Lineu», porque nos induz a pensar precisamente aquilo que corresponde a tudo, menos à verdade: que Lineu era uma pessoa vulgar.

Ora, a verdade é que Lineu, com este pequeno «ovo de colombo» acabou por ser um potenciador de todo o conhecimento científico, tal como hoje o conceptualizamos e organizamos e de que beneficiou também Darwin.

Não resisti portanto e fui ao Ciberdúvidas confirmar a dúvida - passe a redundância. Porquê que se usa então a expressão aparentemente depreciativa para invocar uma tal personalidade?

Madalena Ferreira, da Suécia esclarece ali : «Lineu foi, como é sabido, o fundador do sistema de classificação biológica moderno. Cada espécie animal ou vegetal foi identificada por um binómio, em latim, composto pelo seu género e espécie. Em muitíssimos casos, há géneros que apresentam uma espécie particularmente comum, que se designa simplesmente vulgaris. Assim, o nome científico do estorninho, por exemplo, é Sturnus vulgaris e, como foi Lineu quem lhe deu esse nome, é Sturnus vulgaris Linnaeus. O mesmo se passa com o esquilo europeu, Sciurus vulgaris Linnaeus. Trata-se, portanto, de estorninhos e esquilos «vulgares de Lineu»...».

Como Calimero, apetece dizer : «it´s an injustice, it is!»