Declaração de interesses: odeio futebol e sobretudo o mundo que o rodeia.
Constatação de facto: o meu filho adora futebol e, como já suspeitava que poderia vir a acontecer, está a ficar pessimamente influenciado pelo mundo que o rodeia.
Inscrevo-o na escola de futebol mais perto de casa (afinal praticar futebol, como qualquer outra modalidade desportiva, é saudável). A escola é do Clube B, não obstante ele sempre se tenha declarado do Clube A.
Hoje, dia da inscrição, entro no quarto dele para o beijo de boa-noite. O cachecol do Clube B já pendurado na estante.
- Xiiii...mudaste de clube?
- Sim, claro. Como todos os jogadores de futebol.Pagam-lhes para mudarem de clube e passam logo a ser desse clube.
Entendamo-nos: é-me indiferente que simpatize com o clube A ou B. Mas lembrei-me imediatamente das palavras de Pelé há cerca de um ano atrás :« O problema do jogador é que ele já muda de clube por um salário um pouco maior. Toda esta mudança de treinadores e jogadores diminui um pouco o amor do torcedor».
Se os jogadores que o puto admira não têm amor à camisola, por que há-de ele ter ?
Os valores que lhe são transmitidos pelo mundo do futebol actual são portanto, claramente, os inversos dos apreendidos nas aulas de História, onde ouviu falar do governador romano, Servílio, que mandou executar os emissários e amigos de Viriato, os quais, a troco de promessas de pagamentos - que ele próprio lhes fizera - o haviam assassinado.
Audax, Ditalkon e Minurus foram executados porque «Roma não paga a traidores»; os jogadores que trocam o seu clube por sumptuosos salários são, ao invés, os heróis dos nossos filhos.
2 comentários:
Tens de explicar ao puto que não é bem assim: o Rui Costa pagavam-lhe para JOGAR no Fiorentina mas era Benfiquista do coração e ei-lo no fim da carreira no seu Benfica. É suposto os jogadores de futebol serem profissionais como qualquer outro profissional e muitos existem que sendo adeptos dos grandes clubes não têm lugar nesses grandes clubes e sempre terão de jogar nos pequenos e uma vez aí serem verdadeiros profissionais e suarem as estopinhas para fazer ganhar a sua equipa mesmo que jogando contra o clube da sua eleição. Uma coisa é ser-se adepto de um clube; outra coisa bem distinta é trabalhar-se para um clube. Mas deixaste-me curiosa: o puto querido mudou de clube? Nã ...
Sei lá se mudou, amiga querida. Nem me interessa. Amanhã já pode não ser do B e, por mim, até pode ser do rebenta canelas de Freixo de Espada à Cinta.
Agora, a trabalheira que me vai dar «matar esta cobrinha no ovo»! Hoje em dia, parece que só os «maus da fita» é que estão no quadro de honra dos fedelhos. Não vou dar demasiada importância, mas estarei atenta para perceber se se tratou de uma momice ou se já significa mais qualquer coisa. Ai vou, vou!
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