Nada como acordar numa nítida e solarenga manhã de sábado de Janeiro e ler isto no Jornal Público on line, para estragar alguns dos seus primeiros minutos - «O que fazer com a água que enche a albufeira do Alqueva?».
Os anos passam - 2010, lembram-se? - e Portugal mantém obstinadamente o seu atavismo e incapacidade de gestão, por outras palavras, «não se governa nem se sabe governar».
Temos a tão ansiada albufeira que, supostamente, deveria transformar o celeiro de Portugal no novo regadio português. Temos chuva com fartura (faltam 20 centímetros para atingir em pleno a sua capacidade). Mas para quem antecipasse o Alentejo da côr de um vale verde numa manhã de Primavera em pleno Verão, mais que não fosse nos tempos dos nossos filhos, com um proprietário/agricultor português feliz, a acenar-nos à passagem (como nos nossos salazarentos livros escolares), o melhor é escolher um país mais organizado para residir: o Governo cria as infraestruturas sem planificação estabelecida em colaboração com os agricultores que, pelo sim, pelo não, vão já dizendo que não têm capacidade financeira nem técnica - leia-se dinheiro, mas também idade ou paciência - para transformarem terras de sequeiro em terras de regadio.
Será que este, como os anteriores governos, alguma vez se aperceberam de que existe uma ciência humana chamada sociologia agrária? Pois deviam. É que um agricultor do Norte, onde as terras são ancestralmente e por natureza de regadio, há-de ser necessariamente diferente de um agricultor do alentejo, habituado ao sequeiro.
Em 2013, portanto, acabará previsivelmente a construção das infraestruturas de regadio, altura em que o Governo à data se aperceberá, então e só então, de que apenas dispõe de uma população envelhecida e tecnicamente inapta a aplicar as técnicas de regadio.
Nessa altura, acreditem meus senhores, vai acontecer uma de duas coisas. A primeira hipótese é a de começarem a ser promovidos cursos de formação tendentes a (discurso habitual que me limito a papaguear) «habilitar os que já se encontram instalados com as técnicas devidas e a atrair os mais jovens» - o que se duvida, já que em 2013 as torrentes de dinheiro de Bruxelas ainda serão menores que as actuais, se é que haverá ainda algumas - com os resultados costumeiros de transformarem em nababos os seus promotores e em desgraçados os que os frequentam e que, inocentemente, colocam as suas expectativas nos cursos ministrados.
Estes últimos, saindo para o mercado de trabalho constatarão que não têm capacidade financeira para serem patrões agrícolas, mas, mais grave ainda do que isso, irão mesmo aperceber-se que não existem de todo empresários agrícolas com um mínimo de capacidade financeira ou técnica, pelo que o seu destino é tão simplesmente o desemprego. Lá teríamos, portanto, mais um movimento migratório em direcção ao litoral, perante o olhar bovino de governantes que assegurarão ser incapazes de perceber a razão pela qual um investimento tão avultado não teve qualquer retorno.
A outra hipótese, naturalmente, será a de recebermos (e com um grande sorriso, se faz favor) nuestros hermanos, prontos a implantar um regadio que o portugueses idealizaram e pagaram mas que, como é hábito, não têm capacidade de instalar ou gerir eficazmente.
Num mundo globalizado, se calhar, nem me devia estar a preocupar com isso, até porque, nesse caso, se não tivermos empresários agrícolas portugueses, poderemos ter, pelo menos, trabalhadores agrícolas portugueses (na triste tradição dos portugueses óptimos trabalhadores/péssimos gestores)...mas, pssst, já agora, podíamos ter pedido aos espanhóis que compartilhassem connosco as despesas deste projecto megalómano (porventura, admito, apenas por ter sido mal planeado mas, ainda que por essa razão, megalómano) não?
2 comentários:
Mensagem um pouco amarga, não? Pois é, por vezes tem mesmo de ser. A redenção está na mensagem seguinte...
É,amigos PV, não se pode estar sempre a contar até dez. E quando se conta só até cinco...depois passa ;).
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