Ao meio dia deste domingo. Ouço o programa Visão Global, na Antena 1, com o jornalista Ricardo Alexandre e comentários do embaixador José Cutileito
O Haiti é um dos temas. Estado estabelecido em 1804, a partir de uma revolta de escravos. Mal tratado, quer inicialmente pelos então recentes norte-americanos, receosos do perigo que representaria aquele grito de liberdade de servos privados de quaisquer direitos, quer, posteriormente, por potências coloniais como a França e, de novo, pelos EUA, foi ainda vítima das ditaduras ferozes dos Duvaliers de cerca de trinta anos (aquele Papa-Doc de má memória), concretamente até 1986, e de nunca recuperou.
Num cenário ininterrupto de pobreza extrema, potenciado pela privação de elites bem intencionadas e infraestruturas mínimas, o terramoto e os seus cerca de 200 mil mortos parecem não ser mais do que um degrau na sua vertiginosa descida aos infernos.
Fala-se, no programa, do progressivo esquecimento dos media, mas não se analisam as suas consequências. Talvez nem valesse a pena. Não sabemos todos que esse vai ser um grande problema a associar a todos os que o Haiti já soma?
Carrega-se, sobretudo, na tecla da falta de coordenação no sentido de a ajuda disponibilizada ser eficaz. A ONU e as autoridades nacionais, enfraquecidas como nunca (as intervenções externas ao longo dos últimos anos em nada terão contribuído para o seu fortalecimento, convenhamos), até pela morte de alguns do seus governantes, não se entendem.
Acabam por ser os americanos a imporem-se. O costume. Conheço sobejamente as teorias sobre este assunto. Neste momento não me interessa. Não é só uma catástrofe, trata-se mesmo de um cenário próximo do Apocalipse. Impõe-se quem logra impor-se, não vou analisar as razões de fundo (nem estaria habilitada a fazê-lo). Lei da caserna: manda quem pode, obedece quem deve!
É que pós de boa-vontade manifestamente não chegam. Importa salvar milhares de vidas e proporcionar-lhes mínimos de condições de sobrevivência. E é agora, por que sobretudo cada vez mais esquecido dos media, que o Haiti há-de precisar de apoio eficaz para o efeito.
O preço que depois terá de pagar por isso, logo se vê. Não há-de ficar pior do que já está ou, provavelmente, até do que já estava.
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