Ilusões

Andava à procura de uma frase concreta em «O citador» (não a encontrei, obviamente, que o citador é como a minha estante: cheia de livros que não procuro, maliciosa nos que me esforço por encontrar) mas deparei-me com esta: «É uma infelicidade da época que os doidos guiem os cegos».

Infortúnio da época de William Shakespeare, o mui ilustre autor da asserção, e da nossa.

Nem me refiro só ao país, aludo à Europa a 27, aos EUA, ao confortável «império do ocidente» em que julgávamos viver de há cinquenta anos a esta parte (apesar da guerra fria, vemos agora, este era um lugar «cosy» para se criar os filhos).

Será possível tudo isto? Será que eles, os que detém o poder, são loucos e nós cegos por os seguirmos? Ou será - numa variante que só não vai dar ao mesmo, porque de um louco sempre se pode esperar que se insurja contra a cegueira dos que dirigem os seus destinos - que são eles os cegos e nós os loucos, por insistirmos em acreditar neles?

Pouco importa, porque o que é assustador é não ignorar que a História escrita e por escrever tem, estraçalhadas pelos seus trilhos, dezenas destas ilusões de impérios-guiados-por-cegos/loucos-seguidos-por-loucos/cegos.

2 comentários:

io disse...

Parece ser mesmo uma inevitabilidade, olhando para essa Europa a 27. Já aqui para dentro, isto não é nem do domínio da loucura, nem da cegueira: é mesmo só desepero.

antuérpia disse...

Desespero mesmo e a que conduziu a cegueira, própria dos reinos dos que não se governam, nem se deixam governar.