Já o queimaste?

A minha querida amiga Io incluiu-me simpaticamente numa lista de pessoas que poderiam responder a um inquérito que parece que corre a blogosfera sobre livros. Prometido está que responderei, já que lhe estou grata por isso - e porque é sempre irrecusável responder a perguntas sobre o que mais gostamos e menos gostamos (parece que já alguém escreveu sobre isso) -, distraiu-me outro pensamento.

O inquérito - pode ver-se acima - tem várias perguntas, uma delas é qual o livro que achaste chato mas que ainda assim leste até ao fim? Resposta: «O mar» de Iris Murdoch.

Como fui eu que lho dei, primeiro, confesso que fiquei angustiada. Depois, deu-me imensa vontade de rir a pensar que, de facto, aquele é o tipo de livro que ou se gosta ou não se gosta porque sim, e portanto nunca se aconselha a ninguém e muito menos se dá. Pobrezita, a obrigar-se a lê-lo até ao fim. Logo aquele! Daí ao comentário e «já o queimaste?» foi um saltinho.

Fui à cozinha trincar uma bolacha e dei por mim a olhar para o infinito. E tu, a bem de ver, queimavas algum livro? Resposta politicamente correcta: não, claro que não, aquilo foi uma força de expressão. Há sempre as bibliotecas, um conhecido com gostos diferentes dos nossos, que sei eu. Além disso, os livros não casam com o fogo.

Mas, repetindo para mim mesma (teste!teste!) não queimarias um livro porque o abominavas? Por te ter feito mal lê-lo, independentemente da sua qualidade? Por ser de qualidade muitíssimo inferior aos padrões que consideras aceitáveis? Por difundir valores com os quais não só não concordas, como te repugnam veementemente? Para te vingares da sua própria existência?

Acabei a bolacha e pensei na quantidade de exercícios estéreis com que a minha mente se entretém.

1 comentário:

io disse...

oh miúda, tu naqueles dias até o teu marido me darias se isso me pusesse em linha. Eu, par contre, por aqueles dias tudo era um sofrimento. O livro, esse, era e é bom. Beijo agradecido pela oferta e aconselhamento, portanto. E tem graça porque quando me perguntaste se o tinha queimado só me lembrei do Pepe Carvalho: nada como uma fogueira de livros e um revuelto de setas. ;-)