Dez graças para 2012
Em finais de 2010, apenas desejei "2010, just freeze, please". É claro que o génio da lâmpada fez ouvidos de mercador, e 2011 foi muito pior do que se antecipava. Desisto de desejos, portanto
Na altura fui buscar um artigo de Pacheco Pereira e agora fui repescar também um dele, mas para lhe contrapor dez graças ao seu enunciado das nossas "dez desgraças" de que esta é a oitava, e a que creio mais bem achada, aliás.
Por muito que, economicamente, estejamos condenados nos anos que se seguem a reduzir-mo-nos à nossa insignificância de 1975, o que nos impede de criar um devir intelectual e psicologicamente mais promissor, em lugar de nos auto-limitarmos a uma letargia inconsequente motivada (também, mas não só) pela avalanche de más notícias?
1. Ler mais e, como diria Gonçalo M. Tavares, melhor. E não digo comprar mais livros, digo ler, LER, sejam os livros que tenhamos em casa e nunca chegámos a ler, sejam os emprestados pelos amigos, ou os que existam nas bibliotecas, locais estes que deveríamos aprender ou reaprender a visitar com frequência.
2. Treinar a assertividade (atitude que nos permite defender os nossos direitos, sem agredirmos terceiros e sem lesar os seus próprios direitos). Ao reclamar, atentar no essencial e não no acessório ou irrelevante para o caso.
3. Aprender o prazer de andar a pé. Caminhar traz benefícios físicos mas também psicológicos: tanto permite pôr os pensamentos e sentimentos em dia, como não pensar em absolutamente nada e apenas contemplar (ah...se levarmos uma máquina fotográfica de vez em quando, podemos surpreender o que nunca reparámos no caminho percorrido diariamente).
4.Reaprender a ouvir os outros. Vêm aí dias difíceis e, mais cedo ou mais tarde, qualquer um de nós pode precisar de ouvidos atentos e vozes encorajadoras - enfim, deixemos os ombros amigos para os amigos, que o óptimo é inimigo do bom.
5. Em caso algum desprezar a eficácia. Obter os melhores resultados com o menor esforço possível, treinando a arte de não desperdiçar recursos com burocracias inúteis, estabelecendo, e prosseguindo, objectivos criativos e inteligentes.
6. Olhar menos para os que têm mais do que nós e mais para os que têm menos. É uma prática da tradição judaica-cristã (quer se queira quer não, mesmo a de ateus como eu) muito salutar para qualquer sociedade que se queira próspera.
7. Nunca permitir que os nossos filhos desprezem a informação, o conhecimento e a sabedoria, sob pretexto de que estão a "estudar para o desemprego" ou qualquer disparate do género. Ensinar-lhes a sua mais-valia inestimável para qualquer pessoa, seja em momentos mais ou menos prósperos dos Estados.
8. Incentivar, apreciar e premiar os sucessos de cada um, porque os êxitos de todos serão a médio e a longo prazo a valorização do país e de todos nós.
9. Ensaiar o espírito associativo de forma inteligente. É preciso começar ir às reuniões das Associações de pais da Escolas e às de condomínio e empenhar-nos em propor e discutir sugestões importantes, dando o corpinho ao manifesto na sua concretização (deixemo-nos de capelinhas e de esperar que os outros executem).
10. Recuperar o espírito comunitário esquecido no processo de migração para as cidades. Em acções de voluntariado institucional, mas também à nossa beira. Oferecer-nos para olhar por duas horas pela filha pequena da vizinha, que vem da escola e não tem ninguém em casa para a receber; sugerir ao nosso vizinho com dificuldades em andar, que lhe trazemos as compras quando vamos ao supermercado? Pais ajudam filhos com os netos, filhos ajudam pais.
Um ano de 2012 melhor do que antecipamos para todos nós!
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5 comentários:
Grande post, Antuérpia!
Há pequenos passos que podemos dar, e são tão simples.
: ))
Olá Helena,
Sabes que o que eu acho que daquilo tudo o que mais custa aiii...são as reuniões? Os portugueses ignoram pura e simplesmente o conceito de "directo ao assunto".
Mas enfim, havemos de lá chegar, com pequenos passos, como dizes :)).
hahahaha
"ir directo ao assunto"
- ultimamente tenho andado em reuniões com um grupo de portugueses, e compreendo-te tão bem!
Mas eu vou para lá com espírito desportivo, e visto por esse prisma é melhor que humor inglês.
:)) és uma sobrevivente, portanto.
uma sobrevivente reincidente!
:-))
(que tenhas um bom fim-de-semana)
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