Ninguém assaltou a caixinha dos direitos sociais!


Começa a cansar, a forma como o Governo português anuncia as medidas de austeridade (e os comentadores as comentam, aliás) como se cada português fosse um menino mal-educado, que se portou mal e que agora tem de ser admoestado e castigado. Mesmo quando dizem expressamente que não é para penalizar, como aconteceu hoje relativamente à Madeira, o Primeiro-Ministro e os seus ministros adoptam sempre o ar de "isto não é um castigo, mas é para o menino aprender que estas coisas não se fazem...se não formos nós a ensinar, quem ensina?".

Talvez seja tempo de o Governo perceber que se não é exigível - e nem sequer desejável - que chore connosco os sacrifícios que nos impõe, como fez a ministra italiana, justifica-se um mínimo de respeito por cada um dos portugueses que não tem individualmente culpa do estado a que o país chegou, e que não assaltou a caixinha dos direitos sociais de cada um dos governos do 25 de Abril até aos dias de hoje.

Também nenhum português individualmente é culpado da nossa falta de competitividade, do nosso baixo grau de escolaridade, de não sermos melhores do que outros povos. Podemos colectivamente ser responsáveis pelos maus governos que escolhemos, mas desafortunadamente sempre foram medíocres as opções que se nos ofereciam e, até à data, nada prova que a actual seja melhor. É fácil impor medidas duras de austeridade, chamar-lhes reformas e escudar-se com a Troika, a um povo que se sente culpado sem saber bem do quê.

Senhor Primeiro-Ministro, Senhor Ministro das Finanças, Senhor Ministro da Saúde, não precisamos de manifestações de solidariedade exacerbadas e despropositadas, que a reconhecida resiliência nacional ultrapassará tudo o que venha por aí sem pancadinhas nas costas, mas por amor de quem sois, também não é necessário anunciar cada medida como se muito se congratulassem com a sua imposição.

Sem comentários: