União Europeia - bom demais para ser verdade
Falhámos. O projecto europeu falhou redondamente. Não será tempo, todavia, de deixarmos de apontar responsáveis, e experimentarmos uma leitura (possível e pessoal) das circunstâncias? Não sou ninguém, mas com a licença de quem tem um blogue para dizer (quase) o que muito bem lhe parece, aqui fica.
A Europa sempre foi geográfica e politicamente uma manta de retalhos, fruto de guerras, da lei do mais forte, das corrupções e intrigas diplomáticas de que a natureza humana é feita. Nesses desmandos, o continente europeu encontrou durante séculos o seu equilíbrio periclitante e doloroso. Hitler que, no fundo, é o grande responsável pela Europa de pessoas de bem que quisemos ser, não foi mais do que um ditador com ambições imperiais, igual a muitos outros que na, ou para, a Europa, espalharam o horror e a carnificina - ele, mais eficaz porque perversamente coadjuvado pelas tecnologias até então desconhecidas do terror e dos media.
Foi contra "aquele" Hitler e o ressurgimento de qualquer outro, na Alemanha, ou outro país europeu, que se construiu a Europa a seis, hoje já a 27, que nos protegeu durante mais de 50 anos das guerras intestinas que nos estão nos genes
Daqui partiu a educação para a solidariedade e coesão entre as nações da Europa, em que muitos - incluo-me, pois claro - depositámos "patéticas" esperanças, porque teria o condão de encaminhar os respectivos povos no sentido do máximo bem-estar económico e social (onde ficariam os restantes Estados depois disso, logo se veria, mas até para isso havia esboços de posições humanistas).
Foi uma ideia radiosa, intelectualmente atraente, humanisticamente fascinante mas absolutamente pioneira. Nem em Estados federais ou federados do resto do mundo se registavam exemplos, sequer aproximados, de tamanha manutenção de soberanias e identidades, a par de uma impressionante partilha de recursos. Trabalhou-se portanto afincadamente sobre modelos pré-existentes, adaptados à custa de uma eurocracia paga a peso de ouro.
Poderia ter resultado? Poderia, num mundo perfeito. Todavia, como no conto de Hans Christian Andersen,"O rei vai nu", em algum momento, alguém (os mercados, ou as evidências?) percebeu que o projecto era bom de mais para ser verdade, que por algum motivo a História política-económica sempre exigira perdas de soberania (e por arrasto de identidades) em troca da partilha de recursos e de coesão económica, que não há nada de novo para inventar nesta matéria.
Em bom rigor, a União Europeia poderia ter sido viável, enquanto projecto híbrido, se os restantes Estados tivessem ficado parados a admirá-la, e a seguir o seu trilho. Se a Europa é hoje um projecto votado ao fracasso é porque, e como é natural, os restantes países do planeta, se partilharam a sua ânsia de crescimento económico, nunca usaram dos mesmos ideais de solidariedade social e de bem-estar comum de custos elevadíssimos.
Esses outros Estados, ao invés, exigiram dos seus cidadãos o muito que eles lhes cederam, sem as contrapartidas em termos de regalias sociais de que beneficiavam os cidadãos dos diversos países da União Europeia - e que hoje reconhecemos até, em alguns casos, exageradas porque sem correspondência na sua produtividade (provavelmente, também os outros acabarão por cair nessa armadilha, mas isso será para outros capítulos da sua própria História).
A União Europeia ficará assim para a História económica mundial, tudo indica, como um rotundo fracasso, vergada à sua ineficiência e incapacidade de adaptação a um mundo globalizado, que não foi o que lhe serviu de berço. Não me peçam todavia para cessar a minha admiração por ela enquanto ideal político de extrema generosidade, porque nunca trairia uma utopia em que me orgulho de ter acreditado.
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