44% dos portugueses recusam a democracia...importa-se de repetir?


A notícia de que um estudo recente (in "Público" de 19 de Janeiro 2012) concluiu que apenas 56% dos portugueses consideram que a democracia é o melhor de todos os sistemas se excluirmos todos os outros,  parece-me que só prova que em Portugal se confundem os conceitos de autoridade com autoritarismo.

Na verdade, e da leitura da notícia do "Público", do estudo resulta para mim óbvio que as pessoas anseiam em Portugal - como em qualquer país do mundo - por algo que não têm obtido, nem na vida política, nem laboral: o exercício de autoridade revelador de capacidade de administração, de equaninimidade e de coerência de condutas.  E isto não é de todo incompatível com a democracia, é mesmo uma condição do seu exercício.

Recuso-me a ler aquelas conclusões no sentido de que 44% dos portugueses apreciariam viver num regime autoritário, preferindo a imposição ao respeito, a mera submissão à livre expressão da opinião, a resignação conformada à aceitação informada, a manipulação de interesses a uma direcção firme, o controlo à supervisão, isto é que se substituíssem despudoradamente critérios rigorosos próprios de regimes democráticos com senso de autoridade, por bem ou mal disfarçadas arbitrariedades específicas de regimes autoritários.

Cabe na cabeça de alguém que, se fosse efectuada uma boa revisão de conceitos, se recusasse que a governação fosse exercida através de critérios reconhecíveis e reconhecidos para efeitos de validade das regras que regulam a sociedade portuguesa? Será que alguém, em seu juízo perfeito, por muito ignorante, poderia querer cumprir normas e procedimentos injustos por ter medo de ser multado ou mesmo preso, ou ser considerado legitimamente despedido sob alegação de que não se é suficientemente bonito para se trabalhar numa fábrica de sapatos?

O que há na sociedade portuguesa como em muitas outras provavelmente (mal sei da portuguesa, pelo que me abstenho de pronunciar sobre as outras) é, como não podia deixar de ser, a percepção de que os líderes eleitos cedem ao clientelismos, prejudicando a eficiência socio-económica das nações e a redistribuição justa da riqueza.

Mas isso significa que as pessoas procuram o oposto da democracia, ou seja o autoritarismo, ou apenas que anseiam por um justo e legítimo exercício de autoridade no seio de um regime democrático?

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