Na zona de desconforto das propostas irrecusáveis
A história do escuteiro que obriga a velhinha a atravessar a estrada, para mim ilustra bem os episódios últimos da relações entre a Grécia e Portugal, de um lado, e os que nos tentam resgatar dos respectivos pântanos de dívidas e deficiente gestão. O escuteiro cumpre a sua boa acção do dia, a velhinha nada pode contra aquela vontade cega de ajudar.
Sendo obviamente certo que a velhinha teria sempre de atravessar a estrada para aceder ao pote de ouro, sabido era, ainda antes da assinatura do acordo para o segundo resgate grego, que a opção de permanência no euro da Grécia podia ser pior que a inversa (sendo que o contrário também é verdade).
Facto é que expectativas de crescimento económico continuam baixíssimas para a Grécia, mas também para Portugal (com uma economia raquítica e um desemprego galopante...) pelo sinceramente não me surpreenderá uma eventual multiplicação de propostas à "O Padrinho" de F.F. Coppola, como a do ministro do Interior alemão, Hans-Peter Friedrich que, sábado passado, numa entrevista ao «Der Spiegel», terá opinado que a Grécia deveria sair da zona euro, criando-se "incentivos para uma saída que não possam ser recusados", dado que "fora da União monetária, as hipóteses da Grécia se regenerar e se tornar competitiva serão seguramente maiores do que se ficar na Zona Euro."
Pese embora prontamente contrariado pela Senhora Merkel, como não desconfiar aqui do truque do "polícia mau e do polícia bom", mesmo que não pré-combinado: a um primeiro cheio de ameaças veladas e confusas, segue-se um segundo de veludo, pronto para a negociação?
A supostamente solidária e coesa Europa poderá estar prestes a entrar numa, ainda há bem pouco tempo, impensável e arriscada zona de desconforto das propostas irrecusáveis para negociação de saídas. Será este um dos tais imprevistos que a História lerá como inevitabilidade (aqui)? E alguém tem ideia onde é que isto poderá levar a União Europeia?
Se nada disto acontecer, e acabarmos numa Europa reunificada e fortalecida, serei obrigada a tirar o chapéu aos "escuteiros" que terão visto o que mais ninguém hoje consegue ver.
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