Igualde entre os sexos: só a indiferença é sinónimo de deferência


REUTERS/Pascal Rossignol

Jean-Marc Ayrault, em França, conseguiu a paridade no governo recentemente formado, tal como prometido eleitoralmente por François Hollande. Como fez? Contou 17 homens para um lado, 17 mulheres para outro e chamou-lhe um governo paritário.

Como sou mulher, defendo a igualdade entre sexos e sou absolutamente contra a discriminação feminina, estou à vontade para dizer que acho que Hollande e Ayrault  sabem fazer contas, são politicamente correctos, mas assumiram uma inaceitável atitude paternalista e portanto perversa no que concerne à igualdade no respeito por homens e mulheres.

O que aquela contabilidade me diz é que Hollande/Ayrault não procuraram um governo competente na mais respeitosa indiferença pelo sexo dos ministros, mas um governo apenas paritário. E isso não é necessariamente uma boa opção por muitos aplausos que suscite. Nem má, aceite-se, mas é suspeita: quem é que me garante que não se preferiu em alguns casos prejudicar a competência de um ou outro ministério, em benefício da paridade formal do governo? Não haveria dois homens mais aptos para os cargos que foram ocupados por duas mulheres, ou duas mulheres que fizessem um melhor lugar que dois dos homens escolhidos?

É claro que sei que isto faz parte de uma estratégia dos países democráticos para darem o exemplo de promoção das mulheres na sociedade. Mas será que esta paridade extremada não é tão plástica e ridícula como seria ter escolhido 17 ministros adeptos do Paris Saint-Germain e 17 do Monpellier Hérault?

Um governo não é propriamente um corpo de dança de tango ou valsa. Não precisa de parelhas.Os ministros de qualquer dos sexos distinguem-se pela personalidade, capacidade de trabalho, inteligência e aptidão para aos cargos que vão exercer. Ter evitado este exagero na procura da igualdade formal (sobretudo quando a material está prejudicada, porque as pastas mais importantes foram entregues a homens) seria obstar a que fosse sub-liminarmente lançado sobre as mulheres membros do governo - ou pelo menos sobre algumas delas - o opróbrio de exercerem um cargo para que um qualquer homem seria mais apto.

A indiferença pela absoluta paridade teria revelado bem mais deferência pela inteligência feminina e pelo seu actual estatuto nas sociedades ocidentais que esta paridade manifestamente esforçada.

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