Sai a matéria toda!


Ontem, o T. chegou a casa irritado. Afinal, ao contrário do que o professor de História dissera, não saíra a "matéria toda" no teste.

Eu, como o miúdo,  nada teríamos a opor a que, de facto, saísse a matéria toda, se fosse esse o critério do professor. Todavia, se  o teste contemplava apenas as últimas oito páginas do livro, não seria mais lógico que tivesse indicado uma parte do programa da disciplina, e daí escolhesse os temas do teste no âmbito da sua legítima discricionaridade?

O "sai a matéria toda"  faz parte do ciclo do desperdício improdutivo de energia intelectual em que  nos deixamos cair, traduzido em tempo gasto pelos alunos a circunscrever, por dedução, o que sai num teste, e na ansiedade gerada pela incerteza quanto à restante matéria.

É uma tradição parola e obscurantista, que nada rompe: cria nos professores a  falsa e patética convicção de competência, porque escondem dos alunos informação relevante para desenvolverem os seus estudos, e  faz de cada aluno um cábula que só estuda o que presume que saia (nomeadamente porque pergunta aos colegas de turmas que já fizeram teste), com o correspondente sentimento de culpa de não ter estudado o bastante.

Há algum resquício de salazarismo nesta falta de transparência: se eu, professor, indico a matéria que efectivamente pode sair, todos os alunos têm 100%. Como se isto fosse verdade, em Portugal, ou em qualquer parte do mundo!

Com o conhecimento prévio do programa -  não vejo razão para que o primeiro dia de aulas não seja entregue a cada aluno uma cópia detalhada do programa de cada disciplina - os alunos têm acesso à informação dos conhecimentos a adquirir até ao final do ano. Não têm, só por isso, conhecimento automático dos assuntos leccionados, o que só logra quem assiste às aulas daquele professor - porque nenhum ensina do mesmo modo - e estuda em casa. Mais, não haver dúvidas quanto aos temas a abordar no teste incentiva naturalmente o aprofundamento do seu estudo.

Pode dizer-se que a informação prévia e pormenorizada dos programas por parte alunos induz melhores notas em geral? Obviamente, porque permite uma melhor sistematização do que nos propomos estudar e portanto uma melhor aquisição e consolidação de conhecimentos. Todavia, não é esse o objectivo do ensino? Repito: mas não é esse precisamente o objectivo do ensino, sobretudo ao nível do básico e do secundário?

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