Desemprego jovem: um nó górdio


O mercado de trabalho, em Portugal, é um fenómeno de desencontro entre a oferta e a procura, que ignoro totalmente se está estudado. Não me admira portanto que a troika o não entenda, mas se me for pedida a opinião, procure as respostas nesta estranha sociedade portuguesa.

Quem é que entende que, num país em que o desemprego jovem ultrapassa os 35%,  se não encontre jovens que cumpram os mínimos de competência, para empregos que exigem pouquíssimas qualificações? Onde estão os que, com o 9º ou 12º ano, retiveram e sabem usar os conhecimentos que lhes transmitiram na escola, para serem competentes em funções de relativa simplicidade?  Será que chegaremos ao tal "ajustamento do mercado de trabalho", apenas quando tivermos engenheiros formados no Instituto Superior Técnico em empregos que, em qualquer outro país desenvolvido, estariam destinados a pessoas com o 9º ou 12º anos?

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No outro dia, uma amiga minha arrepanhava os cabelos. Ligaram-lhe de um operador de tv cabo. Um rapaz do call center, muito simpático, perguntou-lhe o nome, se vivia na morada indicada e se já aderira àquele operador. Respondeu a tudo que sim. Muito bem, então se queria ouvir as promoções que tinham para quem quisesse aderir àquele operador, na sua zona de residência.
- Não percebo...mas tem promoções para quem pertence já a esse operador?
- Ah não, isso não tenho..
- Então para que quereria eu ouvir promoções que não são para mim?
- Ah, pois, sendo assim não deve querer... pois não....
Despediu-se simpaticamente e desligou.

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Hoje, telefona-me outra amiga minha, em polvorosa. Os Cd's da série Downton Abbey estavam sair juntamente com o Jornal Expresso. Quando soube, dirigiu-se a uma bomba de gasolina, comprou o jornal e pediu o CD, dizendo o nome da série em inglês, já que não foi traduzido. De pronto, que não tinha saído. Ai saiu, saiu! O rapaz de cerca de vinte e tal anos - supostamente com, pelo menos, a escolaridade obrigatória completa, no que redunda em quatro anos de inglês - olhou desinteressado os vários produtos do género, manteve que não tinham, mas lá se decidiu a chamar o encarregado. Este, revelando apesar de tudo mais boa-vontade, passou todavia várias vezes pelo título até que ela que teve de dizer, é esse!

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Aqui há uns tempos, uma outra amiga minha, numa revoada de desemprego colectivo, foi dispensada. No dia seguinte, aceitou trabalhar num call center e  rapidamente ganhou a confiança dos encarregados, que se confessavam desesperados por não encontrarem ninguém com qualificações supostamente adequadas ao tipo de trabalho e que conseguisse fazer o que ela aprendera em minutos: promoção telefónica de um produto, e preenchimento simultâneo de uma ficha informatizada.

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