Europa: ordem para vender os anéis
No eléctrico que tomo diariamente (ou quase, sempre que a minha preguiça de pequena burguesa da era pré-troika me não atraiçoa, e não me compele a ir de automóvel trabalhar) ía uma família de turistas italianos. Como todos os italianos, falavam, comentavam e riam-se do que viam à sua volta, ou de coisas deles que nem me esforcei para entender. Sorri para mim e pensei: eu, de facto, adoro a Europa.
Gosto dos italianos, como dos espanhóis, dos franceses, dos gregos, dos alemães, dos holandeses, dos finlandeses, dos checos, dos dinamarqueses, dos malteses, dos polacos, dos ingleses e irlandeses... e gosto particulamente de ser portuguesa. A Europa é tão maravilhosamente pequena e tão magnificamente grandiosa; culturalmente tão distinta, e ao mesmo tempo tão intra-identificada e identificável. Cada nação está tão suficientemente perto e tão espantosamente distante de todas as outras. O sol que nos alumia e a noite que cai são tão iguaizinhos em qualquer dos cantos de um mapa que só politicamente é fragmentado porque, visto se cima, de um satélite, é absolutamente uno...
Dá, todavia, a sensação que essa Europa não consegue neste momento fugir aos comportamentos próprios de uma antiga e decadente família aristocrática, confrontada com a necessidade de vender os anéis para salvar os dedos, e muito tentada a não o fazer. Como em muitas as famílias nessas condições, os seus membros medem forças, fazem estapafúrdios cálculos tácticos para os próximos passos - não obedecendo a uma estratégia segura que os beneficie a todos - e mesmo assim apenas enquanto mantém boas recordações de Natais passados em comum, quando "as crianças eram pequenas".
E isso é muito perigoso. Pode ser um bom tema para grandiosas sagas romanescas, mas na vida real se, quer os membros mais ricos da família, quer os mais pobres, não perceberem que têm rapidamente, e cada um por si, de escolher os dedos e vender os anéis, poderemos acabar a reviver o passado em Brideshead, como o melacólico diletante que a segunda guerra mundial transmutou em "Captain" Charles Ryder.
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