Portugal insensato
A reportagem desta manhã na Antena 1 procurava demonstrar a seguinte tese: os portugueses que ainda vão para o Algarve procuram as estradas secundárias, evitando as antigas SCUTS uma vez que agora têm portagens.
Uma coisa que aprendi na minha vida foi a não julgar as prioridades alheias. Cada pessoa tem as suas, e não têm de coincidir, sob pena do mundo tombar. Para mim, o adágio de que "os gostos não se discutem, mas educam-se" tem aplicação exclusiva àqueles a quem nos calha educar e, para os outros, é de usar apenas o "vive e deixa viver".
Hoje, porém, nem queria acreditar. As respostas às perguntas do repórter de verão daquele canal de rádio eram a de que a opção se justificava por mais barata, apesar de implicar cerca de mais uma hora de caminho. Ah, e poupa quanto? Cerca de € 20... que sempre dão para uns pequenos almoços e uns lanches, ou para um cozido à portuguesa em Canal Caveira, acrescentavam. E riam-se.
Por acaso, fiz bem poucas vezes a viagem Lisboa-Algarve, mas a recordação que tenho das estradas secundárias que levam àquela região é de uma absurda insegurança, de um trânsito medonho, e de um urbanismo arrepiante, revelador de parte das entranhas de Portugal que mais haveríamos de querer esquecer, na impossibilidade de fazer implodir.
A tudo isto aquelas pessoas se manifestavam absolutamente indiferentes. Segurança, para o que aliás no final da reportagem a polícia veio alertar, foi assunto que nem lhes passou pela mente - e muitas delas teriam os filhos no banco detrás; a irritação que o excesso de trânsito provoca, também não as tocava; a indigência estética da paisagem, é evidente que nem lhes ocorreu, (mas essa é aquela parte das prioridades que, não colocando ninguém em risco, não discuto de todo).
Desde que com a barriguinha cheia de pequenos-almoços e lanches comprados nos snack-bares de beira da estrada (que isto de levar sanduiches e sumos de casa dá trabalho), ou o cozidinho assegurado, no eternamente insensato Portugal "está-se bem".
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