Excertos literários da minha vida (35)



Lawrence Durrell

 "Parado a uma certa distância delas, sentindo a calidez aveludada da noite na face, dei graças por ter superado o desejo de fotografar coisas - em tempos fora um fotógrafo entusiástico e chegara mesmo a vender o meu trabalho. Agora preferia tentar usar os meus olhos, em primeira mão, por assim dizer, e obrigar a memória a fazer alguma coisa. Num pequeno caderno escolar tomava ocasionalmente um apontamento ou dois, pelo prazer de tentar desenhar, e depois, mais tarde, talvez me abalançasse a pintar uma aguarela que, intencionalmente, tentaria capturar o humor ou a emoção de determinado lugar ou incidente. Era uma maneira mais satisfatória de fazer as coisas, mais adequada à minha idade e preocupações actuais. A fotografia era sempre uma versão ligeiramente deturpada do tema, ao passo que a pintura não tinha quaisquer pretensões de ser algo mais do que uma visão ligeiramente deturpada dos nossos sentimentos em dado momento do tempo."

"Carrossel Siciliano". Lawrence Durrell. Edição Livros do Brasil. Tradução de Fernanda Pinto Rodrigues.

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