O Pedro no facebook


- Olá querida, 'tá boa? Com'é que vai ? Já leu o Pedro?
- Olá menina, 'tá tudo bem, tudo bem. E você, 'tá boa?...Pedro? Qual Pedro?
- O Pedrocas, o nosso primeiro-ministro!
- Hum..Pedrocas?
- Sim, o Pedro. Não viu? Ontem foi à televisão. Eu adoro, adoro vê-lo. Mas ainda adoro mais lê-lo.
- A menina está numa excita! Mas onde é que o leu?
- No facebook.
- Ah...só o vi na televisão. Parece que vai cortar ainda mais salários. Um aborrecimento... para os pobres, 'tá claro.
- Mas ele tem razão! Coitado. Não pode fazer mais nada. Tem de cortar nos pobres, eles merecem....
- Merecem?
- Armaram-se em ricos durante imenso tempo. Coitados, queriam ser como nós, 'tá a ver? Ora isso não pode ser.
- Pois, suponho c'a menina tenha razão.
- Pois claro que tenho. Ele tem de os pôr no lugar deles.
- Ah...e também vai baixar o salário dele? E o daqueles outros senhores administradores dos 18 institutos públicos que podem ganhar mais do que ele?
- A sério? Ganham mais do que ele? Dezoito institutos? Não me diga! Mas isso não tinha sido proibido?  Enfim, não sei se vai cortar nesses...mas acho que não...ele não vai cortar só nos pobres? Quer dizer, nos pobres e nos remediados...hoje em dia é quase a mesma coisa.
- Pois é..e agora parece que ainda vai ser mais assim...
- Oh querida, que coisa, lá está a menina com esses seus tiques de esquerda.
- Dá-me pena, você sabe...
- Sim, sim, já sei, os pobres são simpáticos...e agora vai haver cada vez mais simpáticos para a menina gostar.
- A menina é má!
- Oh querida, claro que não sou má. Estou a brincar, não vê? Enfim, isso agora não interessa nada...ele agradeceu...
- Agradeceu?! Não ouvi nada...
- Pois, essa mania de não querer estar o facebook...era o qu'eu lhe 'tava a dizer. 'Tá a ver o c'a menina perde?
-  Agradeceu no facebook?
-  Sim, sim, escreveu "obrigado" e assinou "Pedro". Não é fofinho?
-  Um fofinho, de facto. E agradeceu a quem?
- Aos amigos.
- Aos amigos?
- Ele começou mesmo assim," amigos vírgula". Suponho que se dirigisse a eles, a menina não acha?
- Acho. Que horror! Não me diga que tem amigos pobres.
- Pois, visto desse ponto de vista é estranho... mas foi isso que ele escreveu...terá sido engano?
- Bom, deixe lá isso. E porquê que ele agradeceu aos amigos?
- Diz que fez um discurso dos mais ingratos que um primeiro-ministro poderia fazer aos portugueses.
- Lá isso também me pareceu que foi um bocado ingrato da parte dele: depois de todos os sacrifícios que os portugueses já fizeram, ainda vir com mais estes agora...mas o que é que os amigos têm a ver com isso?
- Enfim, teve de se justificar por causa dos cortes salariais...
- Aos amigos?
- Não, aos portugueses...
- Então porquê que se dirigiu aos amigos?...
- Não sei... ai, que coisa, a menina baralha-me! Olhe nem quero saber.. acha que eu percebo alguma coisa de política? Claro que não. Isso é coisa de pobre. Estava só a fazer conversa.

Sem comentários: