Quando o "autismo" é tamanho XL


As manifestações de sábado passado evidenciaram que, politicamente, mais mortífero do que fracassar previsões económico-financeiras e pedir sacrifícios adicionais e desmesurados a um povo, é governar de forma autista, "gabinetista", com falta de bom senso político, desconhecimento da realidade e desrespeito pela inteligência dos governados.

Estou convencida que anunciar e insistir na transferência do pagamento da TSU dos empregadores para os trabalhadores, uma medida tão obviamente ineficaz, iníqua e cuja demonstração da incorrecção técnica é de uma simplicidade atroz, com a mesma despreocupação de quem trauteia a canção "Nini dançava só p'ra mim", acabará por constituir um case study de "erros infantis a evitar", e será mesmo incluído em próximos manuais para "políticos tótos".

O pior é que este erro pueril pode sair caro ao país. Corremos o risco, não só de ver abalada um mínimo de coesão nacional à volta do assunto austeridade, como ainda que as instituições e a imprensa internacionais - que por definição reduzem tudo à sua expressão mais simples quando se trata de assuntos que observam de fora, não nos iludamos - se sintam tentadas a ver nas manifestações em Portugal, a evidência da proverbial resistência dos países intervencionados ao imprescindível esforço de contenção orçamental.

Não é, no entanto, fácil traduzir aquela que é a indizível questão portuguesa que acabou indirectamente por levar milhares (eu própria!) à rua, numa linguagem que um alemão, um finlandês ou um holandês entendam. É ela que, se é um facto que temos um problema económico- financeiro para resolver, grande, enorme, do tamanho do mundo, ele pouco é se comparado com aquele que é a imaturidade, impreparação, falta de visão e experiência de vida, da nossa inábil e autocomplacente classe política.

É óbvio que precisamos do dinheiro que nos é emprestado pela troika como pão para a boca, mas o que nos dava mesmo jeito era uma meia dúzia, nem precisava de ser muito bem contada, de políticos a sério.

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