União europeia: a pobreza exclui, a riqueza isola


"A pobreza exclui (...) e a riqueza isola."
Lawrence Durrell, em "Justine" (Ulisseia)


Paul Krugman terá escrito ontem na sua coluna do New York Times", intitulada de "A loucura da austeridade na Europa", "que as medidas de austeridade levadas a cabo por países como a Grécia, Espanha ou Portugal foram demasiado longe". **

Terá acrescentado que os alemães não acreditam nisso: "Falem com políticos alemães e eles irão mostrar-vos a crise do euro como um jogo moral, um conto de países que viveram acima das suas possibilidades."

Assentemos nisto honestamente: foi pena estes três países não terem optado a tempo por uma política de rigor e de disciplina ao longo dos anos que levaram de integração europeia. 

Mas começa a ser óbvio, mesmo para quem, como eu, defende as vantagens de ajustamentos nestes Estados-membros (uma expressão que, aliás, nos discurso político e mediático começa a perder terreno para apenas "Estados" ou "países") ainda que induzidos pela crise das dívidas soberanas, que serem eles agora impostos abruptamente, num curtíssimo espaço de tempo, em ambiente recessivo e absolutamente desesperançado, e ainda por cima em jeito de castigo, só pode dar mau resultado.

Exauridos como estaremos após esforços gigantescos no trilho do empobrecimento, com economias enxangues e incapazes, por isso, de se autofinanciarem, seremos, na União Europeia, como aquela criança que, frequentando o melhor dos colégios, não tenha o que almoçar em casa: débil, com medíocre rendimentos escolar e sem amigos.

Se isso acontecer poderemos já antecipar com facilidade o fim da União Europeia.

Sim, para que quereremos nós, países então sobreempobrecidos, ou eles, Estados ainda ricos, manter a Europa artificialmente unida, se parte dela se sentirá excluída como um sem-abrigo, enquanto a outra festejará, isolada, num esplendoroso castelo de arrogância?

Os políticos alemães de que fala Krugman podem ter até razão, mas o que farão depois com ela?

** Sobre os riscos da austeridade diz mais no seu blog: http://krugman.blogs.nytimes.com/2012/09/28/debt-is-a-drug-and-so-is-austerity/

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