Portugal: tirar o melhor do pior
A imagem que Portugal de 2012 tem de Portugal de 2012, não é a imagem que os outros países do mundo têm de Portugal 2012. Bem nos podemos sentir náufragos e acenar aos barcos que passam que ninguém nos verá ou, se nos virem, acenarão também por boa-educação e seguirão em frente. Não por omissão do dever de auxílio, mas apenas porque apesar de estarmos mal, muitos outros estão pior.
Portugal será para os outros aquilo que outros foram (e muitos ainda são) para nós durante muito tempo: um país que aparece nos dormentes noticiários do mundo por uma razão mais ou menos indistinta. Passámos de espectador a notícia que, aliás, tenderá cada vez mais a ser relegada para o fim dos noticiários, acabando mesmo por desaparecer. Depois do caos inicial, quem é que mais falou da Argentina, até recentemente com as nacionalizações?
O FMI dirá o que muito bem lhe apetecer, a Chanceler alemã virá cá em novembro, dezembro, fevereiro, pouco importa e, provavelmente, muito outros chefes de Estado e de governo se lhe seguirão numa roda viva solidária à nossa volta, parecendo que se esforçam muito para não fazer nada.
Não nos lamentemos. Portugal, nos seus tempos de euforia económica, também já fez parte dessas comitivas diplomáticas que se passeavam de avião a fingir que ajudavam países em situações até bem piores do que a nossa actualmente, sem lograr resolver absolutamente nada. Uma vez da caça, outra do caçador.
Há que escolher, portanto: queremos ficar aqui parados, morrendo a acenar, ou queremos fazer como Robison Crusoé de Daniel Dafoe e, esperando o melhor, preparar-mo-nos para o pior, e andar com a vida para a frente por nossa conta e risco?
Era bom que contássemos com um governo do nosso lado para isso, e não contra nós. Um governo que nos valorizasse, e não que nos puxasse para baixo, um governo nos dissesse "olhem, não vale a pena continuarmos aqui a acenar, vamos lá mas é fazer isto ou aquilo para relançar seriamente a economia". Mas um país só tem homens providenciais por uma de duas razões: porque os cria, educa e forma, o que não foi aparenteme o nosso caso, ou porque os encontra debaixo de uma pedra - mas até a sorte dá trabalho e não trabalhámos sequer o suficiente para ter essa sorte (a qualidade acumulada de "jotinhas" prova-o à evidência).
Contamos com o quê, então? Pois, lamento: apenas com a sociedade civil. Essa é que não pode baixar os braços, essa é que tem de falar, agir, puxar por quem não pode ou, por ora pelo menos, parece não querer. Há que mobilizar energias no sentido certo. Não quero com isto dizer que percamos o direito à indignação, e que não protestemos sempre que se imponha, de cada vez que o Estado nos coloca injusta e estupidamente o pé em cima. Quero apenas dizer que não nos valerá de nada fazer greve à vida, só para provar que eles, Governo e troika, não têm razão.
Se a sociedade civil se mobilizar, não desistindo de estudar e de incentivar os menos priviligiados a estudarem também; se apoiar os mais carenciados, e a cultura e as artes, e se se juntar para, por exemplo, comprar os meios de diagnóstico e cura que faltem nos hospitais (como já aconteceu); se, em suma, se mobilizar para que o país perca o mínimo da qualidade de vida já alcançada - o que não quer dizer viver "à grande" como vivíamos -, em lugar de "se pirar", como dizia Nogueira Leite que iria fazer, e desistir do país e, com isso, acabarmos por prosperar, não estamos a provar que Governo e troika têm razão, mas antes que, apesar de a não terem de todo, fomos capazes de nos agigantar.
Há que tirar o melhor do pior, percorrendo a distância entre o desejar e o querer, ou seja, agindo.
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