União Europeia e o método esquecido dos pequenos passos


"(...) Nas últimas duas décadas, a União Europeia foi abandonando o método dos pequenos passos de Jean Monet e procurou aumentar a passada e acelerar a História. Desde 1992, a União Europeia: 1) Aprovou quatro novos tratados (Maastricht, 1992; Amesterdão, 1997; Nice, 2001; e Lisboa, 2007) e tentou aprovar um Tratado Constitucional em 2004; 2) Criou o Mercado Interno (1993), uma moeda única e uma Política Monetária Única (1999 e 2002) sem estarem reunidos os chamados requisitos mínimos para a criação de zonas monetárias óptimas (Mundell, 1961); 3) Procedeu a três grandes alargamentos a novos Estados-membros (Áustria, Finlândia e Suécia, 1995; República Checa, Chipre, Estónia, Letónia, Lituânia, Hungria, Malta, Polónia, Eslovénia e Eslová-quia, 2004; Bulgária e Roménia, 2007) mais do que duplicando assim o número de Estados-membros; 4) Implementou uma política comercial externa permissiva e frequentemente penalizadora das especializações económicas de muitos Estados-membros); 5) Gerou uma política monetária especialmente orientada para a ambição geoestratégica da União e não focada no seu próprio desempenho económico. Esta corrida veloz não deixou lugar, nem espaço, para o tempo longo de maturação que muitas destas decisões exigiam para poderem ser bem sucedidas. E transformou a União, de uma construção supranacional magnífica e uma referência à escala global que foi, na organização vulnerável e ferida que hoje é.

Nos últimos vinte anos, as elites europeias governantes quiserem fazer toda a história europeia nos seus tempos de vida, procurando assegurar a sua própria imortalidade acima dos líderes fundadores. Talvez tenham mesmo conseguido. Pelas piores razões."


Paulo Neto, "A Europa na agonia dos tempos". In Público, 4.11.2012.

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