Não voto em Lisboa, porque não moro em Lisboa. Mas, trabalhando lá, obviamente usufruo mais de Lisboa do que quem aí resida e trabalhe em Santa Maria da Azóia, por exemplo. É um facto que não precisa de demonstração.
Isto tem uma efeito inevitável nas opiniões que me posso dar ao luxo de emitir sobre o que desejo para Lisboa. É que elas não têm de ser consequentes em relação ao meu voto, já que ele não vai existir.
Posso, portanto, do alto da minha absoluta irresponsabilidade cívica e política, dizer claramente: não quero saber do défice da Câmara - estou farta de déficites e quem para lá vá que trate dele -, não quero saber o que vão fazer com o espaço do Parque Mayer (só lá fui uma vez por curiosidade e não lhe vejo qualquer potencialidade que não seja de construção pura e dura, pelo que não me interessa), é-me indiferente o espaço da antiga Feira Popular, que obviamente vai parar às mãos de uma qualquer construtora que fará o mesmo que qualquer outra faria no seu lugar, isto é, o máximo de especulação imobiliária (estejam na Câmara , um ou dez Zés e outras tantas Rosetas). Até a discussão sobre o aeroporto em Lisboa, ou fora dela, me é relativamente indiferente (lembrem-se que estou a desfrutar no luxo da irresponsabilidade- «ai que bom não cumprir um dever»....).
Só me preocupa uma coisa: a imensa falta de qualidade de vida de quem vive ou trabalha em Lisboa. E isso, perdoe-se o desencanto, é qualquer coisa com que os Lisboetas vivem há séculos e com a qual vão ter de continuar a viver. Parece uma fatalidade. Pode melhorar-se qualquer coisa aqui ou ali (a área das Docas de Alcântara é um feliz exemplo, idem para os parques de estacionamento que foram sendo criados apesar de tudo), mas alguém é capaz de me explicar por que não é exequível um plano empenhado de transportes públicos que viabilize a redução a metade, a um quarto, mesmo, o número de viaturas que entra na capital diariamente? Que induza naturalmente - e não de forma forçada -cada cidadão a ponderar seriamente deixar o automóvel em casa? Que livre Lisboa do amontoado de carros que, actualmente, é?
Em suma, há algum fundamento válido para que a rede de transportes públicos não seja desenhada de tal modo que: a) esses transportes a passem de três em três, ou de cinco em cinco minutos? b) um único cartão nos permita, em cada momento, escolher aquele meio de transporte que com maior poupança de esforço e tempo, nos conduza ao nosso destino? c) esses mesmos transportes colectivos cheguem a cada recanto da cidade? d) os interfaces sejam amigáveis e não a complicação que são hoje em dia, como sempre foram? ...
Como é que é possível que isto nunca, mas nunca, seja a prioridade de nenhum candidato e se, acaso tiver sido ou vier a ser, acabe sempre por não ser concretizável?
Só há uma resposta: a nossa incapacidade crónica e abúlica de gerir, coordenar e liderar. Incrivelmente, é mais fácil reunir meios financinanceiros (balúrdios) para fazer túneis para passarem os automóveis de que gostaríamos, precisamente, de nos livrar, do que - com eventualmente bem menos dinheiro (ou até um pouco mais, que importa atento o investimento ambiental e na qualidade de vida que representaria)- engendrar uma solução de fundo para este problema.
Cansa-me, Lisboa. Cansa-nos, Lisboa.
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