Falácias...regras de bons argumentos que são falseadas. É curioso como vivemos rodeados delas e como a nossa ignorância - volto sempre ao tema- pode obstar a que as detectemos. A informação sem conhecimento leva-nos a isso. Em termos muito prosaicos, pergunto-me se não acabamos todos por cair em «conversas de taxista».
Penso muitas vezes nisto quando leio qualquer artigo de opinião - existem falácias, naturalmente, noutros campos, na publicidade, por exemplo, mas aí será mais difícil apanharem-nos desprevenidos.
Hoje em dia, toda a gente opina, publicamente, sobre todos os assuntos. Mesmo que julguemos conhecer muito bem quem ali reúne argumentos para nos convencer do quão bem fundadas são as suas posições, como é que podemos ter a certeza se não haveria outros argumentos, esses sim válidos, se o nosso conhecimento se basear exclusivamente numa pequena colecção de informações recolhidas mais ou menos à pressa nos media? Nem mesmo o contraditório, nos pode assegurar isto!
Sou jurista, mas só um livro que há uns tempos me caiu nas mãos me alertou para o assunto, pelo menos ao nível do consciente.
É um livro «esquemático». Obriga-nos a ler definições, dá exemplos práticos que «encaixam» nas definições, enfim, uma obra de divulgação tipicamente americana. Chama-se «A arte de argumentar», de um senhor de nome Anthony Weston, da colecção Filosofia Aberta da Gradiva.
Os modelos de argumentação são, portanto, ali expostos com o fito de nos ajudar a argumentar convenientemente, mas detive-me especialmente na parte relativa às falácias.
Enuncio as duas que o autor considera «gerais»: a falácia da generalização a partir da informação incompleta e a falácia que consiste em ignorar alternativas. Para despistarmos a falácia da informação incompleta devemos exigir muitos exemplos e não apenas um, esperar exemplos representativos, ter informação de fundo, não admitir excessivas generalizações e sobretudo quando partem de uma única causa.
Alguém se sente minimamente habilitado a, com segurança, afastar esta falácia em pelo menos 10% dos artigos de opinião que lê? Pois eu não!
Quanto à falácia de ignorar alternativas. Para ser despistada, esta falácia exigiria que em cada momento e por nós conseguíssemos aumentar o número de alternativas...o que evidentemente exige vastos conhecimentos, pelo menos nos assuntos mais complexos. Mais uma vez, acho isto atemorizador para o pobre mortal nas mãos de colunistas mais ou menos confiáveis.
Seguidamente, o senhor lança uma lista de 24 falácias, das quais enuncio apenas dez por me parecerem particularmente sugestivas das armadilhas em que podemos cair quando lemos argumentos alheios:
«ad populum» -ex: toda a gente o faz;
«definição persuasiva» - a que define um termo de uma forma que parece correcta mas que é subtilmente tendenciosa - ex: um conservador como uma pessoa que tem uma opinião realista dos limites humanos;
«equivocidade» - usar uma palavra em mais do que um sentido -ex: homens e mulheres não são física e emocionalmente iguais, portanto não devem ser tratados de forma igual pela lei;
«espantalho»- uso de linguagem tendenciosa - ex: dizer que alguém que se opõe ao uso de uma nova tecnologia é adepto do regresso às cavernas;
«a pessoa que»-ex: quem experimentou, gostou (aquelas que eu conheço, claro, as outras, não se sabe);
«falso dilema» -ex: é pegar ou largar! (não haverá outras hipóteses intermédias?)
«pergunta complexa» - introduzir um assunto de tal forma que uma pessoa não pode responder sim ou não, sem se comprometer com uma outra posição, independentemente das razões porque o faz- ex: vai ouvir a sua consciência (leia-se e ser nobre), em vez da sua carteira (leia-se e ser ignóbil) e fazer um donativo?
«petição de princípio» - a bíblia é verdadeira porque Deus a escreveu; a bíblia diz que Deus existe, portanto, Deus existe.
«poço envenenado» - ex: ninguém que seja sensato pensa que...
«provincianismo» - tomar factos locais por universais.
Mas há mais, há mais...
Resta-me concluir que é preciso mesmo ter muito cuidado com o que lemos...pode haver muita «conversa de taxista» disfarçada de opinião avalizada. Que trabalheira, portanto, se nos queremos defender convenientemente neste mundo que, como dizia Vasco Pulido Valente, está perigoso.
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