
Robert Doisneau
Ter um filho na escola pública, oriundo da privada, para além de nos confrontar com a nova realidade que é uma escola a funcionar em moldes completamente diferentes (ainda que para mim não totalmente novos, porque toda a vida frequentei, e com orgulho, escolas públicas, dado que no meu tempo as escolas privadas eram um exclusivo dos idiotas), dá-nos uma ideia muito clara daquilo em que se transformou, ao longo dos anos, a educação neste paísinho.
Permite-nos percepcionar, por exemplo, com muita nitidez que se, no fundo, hoje como sempre, é relativamente indiferente frequentar ou não uma escola pública - a menos que se trate de colégios excepcionais, convenhamos - já não é de todo indiferente ser filho de alguém com um nível razoável de educação formal ou, ao invés, de uma cabeleireira que provavelmente mal acabou o 9º ano na escola pública.
Hoje, penteava-me eu, entre os arrepios da gripe que me atacou este fds, com a cabeleireira usual, quando esta me começou a relatar os horrores que uma outra, cujo filho está na turma do meu, contava das «exigências da escola» no que respeita à disciplina de educação física.
- Sim?! Não percebo...
- Ah pois, coitada da S. ... sabe lá,anda muito aflita...aquelas obrigatoriedades todas, a t-shirt da escola, os calcões e os fatos de treino azuis, os ténis brancos, as sapatilhas para o ginásio brancas também...
A minha cara deve ter-se aberto num tão enorme ponto de interrogação que, esperta esta, desconfiou logo da veracidade do que a outra dizia.
- Mas pediram-lhe isso?! - pasmei.
- É,disse-me ela, parece que estava no papel que enviaram aos pais...
Eu também o recebera. Nesta altura, já as duas intuíramos que ela lera tudo mal e que agora andava numa lufa-lufa absolutamente desnecessária, à procura do que lhe não era pedido e a dizer mal da escola para quem a quisesse ouvir.
Na verdade, só os calções devem ser azuis e a camisola deve ostentar o logotipo da escola. O resto é absolutamente livre no que respeita a cores e feitios. Quando regressei a casa, tratei de reler a carta para o confirmar...francamente, mais explicado do que aquilo...
Como diz o meu bom e velho amigo Oscar, «a experiência individual é o mais limitado e vicioso dos ciclos», pelo que preferiria abster-me de retirar daqui qualquer conclusão sobre a necessidade actual da avaliação dos professores.
Mas lá que gostaria muito de conhecer o/a professor/a que deixou esta mulher passar na quarta classe e os responsáveis do Ministério da Educação que, por actos ou omissões, incentivavam estas práticas negligentes...lá isso gostava!
Person Robert Do
Right click for SmartMenu shortcuts
Sem comentários:
Enviar um comentário