Magritte, Personal ValuesNem de propósito, dito hoje por um amigo meu ao jantar: «Eu só olho o espelho retrovisor para ultrapassar». Sábio, disse-lhe, rindo-me. Puxado o fio da conversa, acabou por confessar que o olhara muitas vezes para se interrogar, mas que esse momento tinha passado.
Ocorreu-me uma frase do Miguel Esteves Cardoso de «O último Volume», da Assírio e Alvim, cujo texto integral parece que corre na net há alguns anos, género prece ateia, suponho que para benefício da arte de bem olvidar de almas repentinamente desabrigadas: «Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar».
De modo involuntário dei comigo a fazer contas, a comparar, a tentar perceber em quanto tempo lograria recuperar, como ele já recuperara, a função normal do meu espelho retrovisor.
Percebi que é provável que um coração se canse mais devagar do que gostariamos, mas também que depende de cada um de nós que se enfade o mais rapidamente possível desse fatigante exercício de lembranças, mesmo que só aparentemente vão.
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