De como as coisas acabam partidas no chão

As mãos são sempre frágeis demais
quando
deixam cair coisas no chão:
lembro-me de ser pequeno
e deixar cair uma maçã na areia,
um gelado na calçada.
As mãos são sempre frágeis demais
mesmo quando
seguram espelhos:
as mãos frias
quentes
frias
quentes
frias
quentes
frágeis.
As mãos são parte de um mistério
de reconciliação
entre pessoas
que se amam;
os espelhos não,
muito menos quando se partem.
Esta semana deixei cair
ao chão
o espelho grande do corredor
enquanto tu limpavas a parede.
As mãos são sempre frágeis demais
quando
as coisas acabam
partidas no chão,
sejam espelhos
seja o amor.


«Imitação do espelho enquanto partido»
Luís Filipe Cristóvão in«E como ficou chato ser moderno»

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