A viagem do elefante


Já o concluí. Não doeu nada. Percebo o êxito. É um livro absorvente. Lê-se num trago. É, de facto, como disse o próprio Saramago, uma metáfora da vida humana.

Todavia, ou quando li «O memorial do convento» e «O ano da morte de Ricardo Reis», que tanto me levaram a admirar Saramago, era demasiado jovem para detectar tantos lugares comuns ou, desta feita, Saramago usou e abusou deles. Cheio de provérbios banais em conclusões óbvias e de pequenos episódios cuja única função parece ser a de justificarem as considerações/opiniões desinteressantes e pouco originais que se lhes seguem.

Por exemplo. O elefante começou a andar mais depressa assim que passou a fronteira apenas, parece, para levar o autor a comparar a situação com a dos emigrantes portugueses que trabalham mais e melhor lá fora do em Portugal. Assim sem mais. A hospedaria italiana teria um nome alemão em benefício dos austríacos que geralmente hospedava, para o narrador poder tecer meia dúzia de considerações mais do que batidas sobre o quanto deixámos que o Algarve seja dos ingleses.

Não tendo deixado de gostar, confesso que o livro me decepcionou na medida em que odeio prever as conclusões e considerações que nos vão ser atiradas e...acertar. Até porque o primeiro capítulo prometia muito mais - já tive oportunidade de o demonstrar aqui.

De qualquer modo, a construção das personagens é excelente (a de Subrho é forte e comovente), as elaborações sobre o «pensar» do elefante bem esgalhadas e a história em geral muito conseguida.

Saramago que me desculpe, portanto, a impaciência, mas, afinal, trata-se de um Prémio Nobel.

2 comentários:

io disse...

Sim, sim, inteiramente de acordo. Lê-se de enfiada, lê-se bem, mas tem alguns calcanhares. Justamente esses que tu indicas. Esse dos ingleses que ele aliás repetiu também me encazinou. Mas estava tão feliz de conseguir ler Saramago que acho que até relevei. :-)

Anónimo disse...

Ainda bem que concordas. Mas também gostei no geral.
Tenta o Memorial, a sério. Aí sim, percebe-se o Nobel, acho...