Não sabia o que dera nas papoilas este ano. Anémicas, anémicas, até ao dia de ontem (passo o óbvio comentário ao facto de ser primeiro de Maio, apenas por odiar o óbvio) mal se dava por elas, nem no Alentejo.Mas ontem seria impossível não as ver de tão encarnadas, sobressaindo por entre milhares de espontâneos amarelos e brancos malmequeres e flores outras, também elas amarelas, arredondadas, a que nas brincadeiras de meninas chamávamos simplesmente «ovos» -que era essa a sua função no «vamos brincar às compras».
Eu e o meu bolinha mágica, que ansiava há semanas por conseguir uma papoila e me chegara há dias a casa a choramingar que o «terrorista» da turma lhe pisara impiedosamente as «suas» papoilas, no recreio da escola, no momento preciso em que ia colher uma, estarrecemos com a sua fragilidade e simples beleza.
E ali ficámos deliciados com tanto «vermelho papoila», naquela parte do Parque Urbano ainda esquecida dos bem-intencionados, mas eternos «desmancha naturezas espontâneas», arquitectos paisagistas da Câmara Municipal de Oeiras.
Esta Primavera ficará para mim marcada já pelo desejo intenso do meu pimpolho destravado em ver uma papoila - cujo significado é precisamente fragilidade e beleza efémera - e por aquela visão redentora de um campo de flores amarelas e brancas pintalgado do seu vermelho exclusivo.
Destes pequenos nadas se fazem, cada vez mais, os meus dias mais felizes.
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