De mergulho na Escola Pública IX

Acho que começa a ser tempo de iniciar o balanço da experiência do meu filho na Escola Pública, no decurso deste ano lectivo.

Em conversa com qualquer professor (e a minha própria mãe é professora), se eu contasse as peripécias do ano escolar do garoto, comentariam que é puro azar. Azar será...mas a verdade é que, cada vez mais, percebo os meus amigos e colegas que insistem em manter os filhos nas privadas.

Enumero, para não pensarem que brinco:

- A Directora de Turma do meu filho é asmática. Profundamente asmática, o que não é culpa dela, nem da escola, nem de ninguém, e no meio de tudo o que vou contar, reconheço que a mais prejudicada é ela, entendamo-nos.

-Como é asmática, repito, profundamente asmática, a professora faltou inúmeras vezes ao longo do ano.

- Como o Ministério da Educação arranjou uma teoria esquisita de que as criancinhas ficavam traumatizadas se passassem de um professor (na primária) para sete ou oito professores no 5º e 6º anos- tenho trauma de pavões desde os 4 anos, agora de ter passado a ter seis ou sete professores no 1º ano do ciclo aos dez anos, lamento, mas não tenho - a Directora de Turma do meu filho, para além de matemática e ciências ainda lhe dava mais três disciplinas: Área de Projecto (uma área nebulosa e inútil onde cabe tudo e nada), Estudo Acompanhado (coisa de grande valia, deixem-me antecipar que o T. nem um resumo de uma página sabe fazer) e Formação Cívica (aquela disciplina que não obsta a que a criançada organize jogos de futebol de brancos contra pretos, como já aqui relatei).

- Contaram bem. A senhora dava e, consequentemente, faltou ao longo do ano a todas as cinco disciplinas várias vezes. E faltava naquele registo intermitente que a doença lhe permitia, obviamente.

- Entretanto, ao longo do ano, reformaram-se sucessivamente, a professora de Língua portuguesa, a professora de inglês e a professora de EVT; e para quem não sabe, cada substituição, mesmo para uma reforma anunciada é sempre de duas semanas, pelo menos, não me perguntem porquê. Mistérios do Ministério da cinco de Outubro.

- Pergunta-se: entretanto, o que fazem as crianças? Às vezes, nem sempre, têm aulas de substituição, onde são entretidas com joguinhos de palavras ou números, na melhor das hipóteses e, na pior, fazem bonecos e riem-se dos disparates uns dos outros. O dossier do meu filho (o terceiro deste ano) é um mundo de bonecada e recortes à conta das aulas de substituição.

- Neste meio tempo, a Directora de Turma acabou por ser substituída, já neste terceiro período. Parece que estaria mesmo mal, tendo sido mesmo internada. O Têzinho ficou com pena, que gostava dela. Em seu lugar, enquanto Directora de Turma, ficou a professora de inglês. Por acaso, imagino que só por acaso, até tem um horário de atendimento mais compatível com os horários dos pais que a primeira....mas imagino que não faça muito bem ideia do que há-de dizer sobre cada aluno. Isso terei oportunidade de confirmar brevemente.

- E como foi substituída enquanto professora de todas aquelas disciplinas, trataram de alterar os horários...dos miúdos claro. Por exemplo, antes era imprescindível terem aulas de ciências da Natureza, metade da turma de cada vez no laboratório. Afinal, agora já não deve ser assim tão importante: fica tudo junto, 27 alunos em aulas preparadas para 15... qual é o problema?

- A professora de ciências, por razões que ignoro, resolveu fazer tábua rasa da matéria que a anterior indicara para o teste que acabou por não dar. Está previsto, então, um «mini-teste» estritamente sobre a matéria que ela própria deu. A saber: a água! A constituição e função da célula, matéria ainda dada pela outra,portanto, é para esqucer. Se os alunos a sabem ou não pouco importa. Aliás, nem é matéria importante.

- A nova professora de matemática, por seu turno....a Escola descobriu que ela não tem possibilidades de dar mais do que dois blocos de 90 minutos (não me perguntem porquê, mais um mistério da 5 de Outubro por certo) o que exclui um terceiro de 45 minutos. Nada de grave. Até ao fim do ano, sexta-feira tem um bónus: não há aula de matemática!

- Por fim, a anterior professora de matemática mantém em seu poder há quase um mês, os testes que deu. Não corrige - admito que esteja doente e não possa -mas também ninguém lhos exige para serem corrigidos por outra. Imagino que seja um crime de lesa magestade (daqueles segredos cujo acesso é denegado aos restantes mortais), a professora A corrigir os testes da professora B....

Há paciência?!!! Acresce que nada, mas nada do que estou a contar foi comunicado aos pais através da caderneta do aluno. Nem sei bem se alguém concebe que as cadernetas também podem servir, porventura, para dar uma satisfação aos pais destas coisas...imagino que não.

E ainda nunca cheguei a falar da «delícia» que é o conjunto de disciplinas e carga horária do 5º ano...tenho evitado porque teria de dar início a uma nova série: Implosão da Cinco de Outubro.

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