Um «soap» versão portuguesa

-O que é isto? A mochila nova toda riscada?
As letras e desenhos a tinta correctora, pintados na mochila preta com cerca de um mês e garantia de 30 anos, disparavam flashes nas minha direcção. Realisticamente, eu perspectivara não mais que dois a três anos de uso contínuo. Mas,um mês?!
Li de imediato a percepção da extensão da asneira nos olhos do puto. Valia a pena gritar, como tinha vontade? Ou dar-lhe dois sopapos à moda antiga? Ou usar algum dos poucos castigos eficazes ainda disponíveis?
- Muito bem. Nem vou dizer nada. Tens aqui detergente e uma escova. Vai para a casa de banho e quero essa tinta toda tirada. Senão, pagas uma mochila igual com o teu dinheiro.
Com Soflan, sabão de seda e, por fim, Omo - que eu lhe ía fornecendo de má cara, virando-lhe as costas de seguida - o puto esfregava, esfregava, esfregava. Encolerizado e a fazer contas ao dinheiro que teria de desembolsar, acabou por se despir e meter na banheira com a mochila e de escova em punho, enquanto guinchava: «isto não sai, isto não sai!». Quase 20 minutos naquilo (nem quero imaginar a sua contribuição de hoje para a pegada ecológica da família).
Por fim, lá me decidi a perguntar-lhe como estava a correr. Afastei o plástico da banheira lentamente. Num mar de espuma, vermelho do esforço e desespero e com um pequeno esgar pela dor que sentia na mão que esfregava ainda...sorriu, de bem.
-Ao menos aprendo de uma vez por todas. Eu pensava que este tipo de coisas só aconteciam nas séries da televisão.

10 comentários:

io disse...

Ah megera! :-)))))))) Eu parto-me a rir com estas tuas histórias! Ou melhor com estas vossas histórias!

-pirata-vermelho- disse...

Éláque aprendem,nas séries de televisão.
Interrogo-me orque é que ninguem se lembra de interromper o uso indiscriminado dos receptores de tv...

antuérpia disse...

Io queridíssima: Megera, eu?!! Uma mãe boazinha, boazinha... de telenovela mesmo, pelos vistos ;)).

pirata-vermelho - seja bem-vindo, antes de mais. Tendo genericamente a concordar consigo e pratico mesmo, às vezes com exagerado empenho, a modalidade desportiva «não podes ver televisão durante a semana e muito pouca ao fim-de-semana». Mas sei reconhecer um petiz «sportsman» quando dou com ele na banheira de minha casa ;).

Helena Araújo disse...

Eu julgava que era a gémea da io, mas afinal parece que sou a tua gémea...
Fiz algo semelhante à minha filha quando ela tinha dois ou três anos. Pintou uma flor enorme no tecido do sofá, e eu não gritei nem lhe bati (dito assim, até parece que sou uma heroína por não bater numa criança de dois ou três anos...). Dei-lhe aqueles paninhos com álcool e disse-lhe que ia limpar até sair tudo.
E a pequenita ia limpando e suspirando "ai a minha vida... ai a minha vida..."
É de família. Aos nove anos, deixei cair na areia do parque de campismo o anel de diamante do meu pai (e do avô, do bisavô, do trisavô...). "Desculpa, pai!", disse eu. "Desculpa, nada", disse ele. "Não sais daqui enquanto o anel não aparecer de novo".
Passei duas horas a procurar, até que o anel apareceu (tinha estado o tempo todo ali, oh que surpresa) e dali a nada apareceu um amiguinho que me disse que tinha passado a manhã a repetir "apareça apareça o diabo sem cabeça". Muito simpático - tinha preferido que me ajudasse, em vez de torcer por mim...

Helena Araújo disse...

E afinal, saiu tudo?

antuérpia disse...

1. Xii, duas horas à procura de um anel na areia? Mas olha que me pareceu um bocadinho de ingratidão da tua parte: o «apareça o diabo sem cabeça» revelou-se, afinal eficaz ;))

2.Por teres feito isso à petiza de dois ou três anos é que ela não te deve ter feito uma destas aos onze, Helena. Só espero não ter feito eu tarde demais hehee...

3. Bom, saiu pouco e mal. Uma mochila arruinada. Mas não quero saber: sempre que olhar para ela há-de lembrar-se do que penou (até lhe dar para pôr um autocolante ou qualquer outra coisa em cima, claro). Sei que não devia, mas não consigo deixar de me divertir com isto tudo, que posso fazer? :)

Helena Araújo disse...

Querida Antuérpia,
os meus filhos são muito polivalentes. Ela fez isso aos dois, e semelhante aos quinze.
E de permeio uma ou outra coisita que eu já esqueci, bendita senilidade precoce.

É, bendita senilidade precoce e bendito sentido de humor. Se não fosse isso, como é que a nossa sanidade mental fazia para se aguentar?

Anónimo disse...

Minha querida Antuérpia (Antuérpia é muito difícil de pronunciar, bem que podias ter arranjado um heterónimo mais simples!),

Compreendo e solidarizo-me com a tua desesperação, mas também não é caso para tanto! Só não compreendo é como só ocorreu aos 11 anos de idade! Normalmente estas coisas acontecem muito mais cedo. Assim que já não deve ser traquinice, mas a veia artística do teu rebento a manifestar-se! ;-)Parece-me que não te podes queixar!
A minha fez algo pior aos 2 anos: um dia acordámos de manhã e estava ela na sala com as paredes e livros tudo rabiscado com um marcador encarnado!
Já nem me lembro muito bem como resolvi a situação (já lá vão muitos anos!), mas o sermão deve ter sido de tal ordem que não voltou a repetir a façanha e sempre foi muito ciosa da boa conservação dos seus pertences!
Besitos, Al

Anónimo disse...

Querida antuérpia: estou com a io. Ainda o puto mal falava e já as tiradas dele eram famosas. As vossas histórias estão no top da minha lista de favoritos, a par dos sketches dos Monty Python e decididamente sem lhes ficar atrás...
ed

antuérpia disse...

Querida Helena: tens razão, o que é preciso é ter sentido de humor que, no caso de ambas é = a «sentido de amor» (como o T. dizia com seis anos).

Al, querido amigo, bienvenido!
(Hum...experimenta com letra minúscula,assim o nome fica mais pequenino ;))

E tu achas que ele é um artista, hem? Pois, isso aconteceu com a tua filha: pintou paredes e deu em violoncelista. O meu pirralho, dar em artista... só se for de stand up comedy hehehe.
bjs

Edêzinha querida: o Têzinho ficaria orgulhoso de saber que o tens em tão alta conta. Os teus tantas vezes citados, chorando a rir, Monty Python?!! Uma honra!