Ultimamente, deparo-me com pessoas que insistem em acabar livros de que não estão a gostar.
Lembram-me o tempo em que me esforçava para ler os extensos e densos artigos do Jornal das Letras. Aprendi muito ali, mas também penei muito. Retirava 10% da sua leitura, o que para quem tinha 50% do tempo disponível, era um bom equilíbrio.
Andava na Faculdade (expressão, no caso, mais do que apropriada, porque de facto «não corria», «andava só» mesmo, como se tivesse todo o tempo do mundo à minha frente, o que era uma óptima opção de vida, vejo agora) e lia, lia, lia e ía ao cinema e ao teatro e lia, lia,lia e ainda tinha tempo infindo para filmes e séries da RTP (versão única no mercado, ainda).
Hoje, não tenho, obviamente, tanto tempo. A minha estante dos livros "para ler", é demasiado extensa, de tal modo que, por essa entre outras razões, restringi a idas à FNAC. Posso perder tempo com livros que não me despertam os sentidos? Não posso, mais que não seja porque haverá sempre qualquer outro que os despertaria. E essa é uma ideia que me é cada vez mais insuportável.
Confesso, todavia, que não sendo o único, há um livro em especial que lamento ter abandonado: «Ulisses» de James Joyce. Desisti ao fim de duzentas páginas, vencida mas não convencida e de tal modo irritada comigo própria, que o incluí na estante dos «lidos» para o esquecer...
Anteontem, li numa entrevista, sereníssima - eu quero ser assim quando for grande! - de João Lobo Antunes, à revista «Ler», de Agosto, que Jorge Luís Borges terá dito que havia muitos livros que não lia até ao fim, ou porque não tinham sido escritos para ele, ou porque ainda não estava preparado para eles
Alguns livros espalhados pela casa, com marcador entre a 10º e a 50ª página, ficaram automaticamente condenados à pena de «alfarrabização». Para outros, porém, como o «Ulisses» abriu-se, num sorriso luminoso, a real hipótese de um «até mais ler»...
4 comentários:
Belo post.
Posso assinar por baixo?
:-)
Ai, assina, assina, Helena, por favor ;)).
Enfim, vale o que vale, mas é bom partilhar das «desculpas» dos sábios.
Este post veio mesmo a calhar, que tenho andado enrolada com uns livros super-maçadores.
;)) Adeus, minhas encomendas, não é?
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