« (...) A culpa associada ao papel de mãe torna-se sempre o seu calcanhar de Aquiles. Existem poucas mulheres que não começam a sentir essa culpa quando são acusadas de serem más mães. Os homens , enquanto pais, raramente se sentem culpados do que quer que seja, tanto em relação àquilo que fazem como em relação àquilo que poderá influenciar a vida dos seus filhos. É um sentimento muito feminino. (...).» Christophe Honoré in ípsilon de 03.9.2010.
Nem de propósito. Hoje, uma colega minha, num pequeno intervalo, falava-me do eterno sentimento de culpa, não especialmente das mães, mas das mulheres em geral. Relatava-me, para ilustrar a sua tese- que desculpava os homens por razões biológicas - uma experiência que havia sido feita com várias crianças de pouca idade, entre quatro e cinco anos.
Um boneco, aparentemente inteiro, era entregue a um menina. No preciso momento da entrega, o braço do boneco cai (esse era o fulcro da experiência). Todas a raparigas se movimentaram entre apanhar o braço do boneco, tentar consertá-lo e pedir desculpa a quem lho entregara. Em suma, preocupavam-se, na dúvida assumiam que a responsabilidade era sua e procuravam resolver a situação.
Os rapazes não terão pura e simplesmente prestado qualquer atenção ao assunto. Não lhes interessou saber o que aconteceu, por que aconteceu, se a responsabilidade era sua ou não e, muito menos, procuraram solucionar o problema.
É uma experiência entre milhares. Vale o que vale, portanto. E há sempre aquela pergunta legítima: um boneco? Mas, claro, talvez se fosse um pequeno automóvel made in China, a experiência alcançasse outros resultados...
Borda fora com a experiência relativamente ao sexo masculino: o que nos faz, de facto, a nós mulheres, preocuparmo-nos e sentirmo-nos responsáveis por tudo? Qual o segredo da nossa incapacidade de alheamento? Que mistério funda o «nascida para cuidar e resolver», pedindo desculpa ainda por cima, que não há revolução sexual ou social que altere?
Não apreciei particularmente o seu filme «Não, minha filha, tu não vais dançar» - um bocadinho engonhado e receoso de que não se perceba o óbvio. Ainda assim, há cenas particularmente bonitas, como a do conto bretão que o filho conta à mãe e que é, de certo modo, o mote da película.
Mas Christophe Honoré percebeu que o sentimento de culpa da mulher é um filão: existiu com Eva (o que faz dela uma «personagem» particularmente credível) e surgirá ainda nos genes da última mulher que povoar a terra.
Sem comentários:
Enviar um comentário