Excertos literários da minha vida (3)




"Desde que conhecera Sebastian, acontecia muitas vezes, quase diariamente, alguma palavra casual na sua conversa lembrar-me que ele era católico, mas considerava isso como um ponto fraco, como o seu urso de pelúcia. Nunca discutimos o assunto até ao segundo dia em Brideshead; quando o padre Phipps nos deixou e nos sentámos na colunata com os jornais, surpreendeu-me ao dizer: «Oh meu caro, é tão difícil ser católico.»
«Isso causa-te assim tantos problemas?»
«Claro, constantemente.»
«Bom, não posso dizer que tenha reparado. Estás a lutar contra a tentação? Não pareces ser muito mais virtuoso do que eu.»
«Sou muito, muitíssimo perverso», disse Sebastian indignado.
«E então?»
«Quem é que costumava implorar: "Ó Deus torna-me bom, mas ainda não"?»
«Não sei. Tu, suponho eu.»
«Claro que sim, eu todos os dias. Mas não é isso.» Voltou às páginas do News of the World e disse: «Outro inconveniente, chefe dos escuteiros.»
«Suponho que tentam e te fazem acreditar numa série de terríveis disparates?.»
«Disparates? Quem me dera! Por vezes parecem-me terrivelmente sensatos.»
«Mas, meu caro Sebastian, não pode acreditar a sério nisso tudo.»
«Não posso?»
«No Natal e na estrela e nos três reis e no boi e no burro.»
«Oh sim, acredito nisso. É uma ideia maravilhosa.»
«Mas não podes acreditar em coisas, só porque é uma ideia maravilhosa.»
«Mas acredito. É assim que acredito.» "

In "Reviver o passado em Brideshead", de Evelyn Waugh,  Moraes, tradução de Ana Maria Rabaça

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