Crise em dó menor
1. A cabeleireira do meu bairro não consegue "segurar" nenhuma empregada, não porque tenha mau feitio, que não tem, mas porque não ficam, apesar de poderem levar um pouco mais de € 1000 brutos para casa mensalmente. É à comissão, é preciso conquistar clientes. Isso exige tempo, paciência e cordialidade, que já não há, porque há bocas urgentes para alimentar em casa.
2. A senhora a quem levo roupa para passar a ferro não encontra ninguém "suficientemente honesto" para partilhar com ela as responsabilidades da loja, leia-se, trabalho e pagamento de encargos. Três anos depois, cansada de procurar, prefere ir lavar escadas. Menos trabalho e preocupações com incessantes fiscalizações e com o fisco, horário certo, tudo pelo mesmo rendimento que retira do ofício de passar a ferro. O clássico e incompreensível buraco negro do pequeno empreendedorismo em Portugal (alguém devia fazer um manual de instruções para a troika só sobre esta matéria).
3. Fecham sucessivamente as lojas do Centro Comercial do bairro, ao que se diz porque os encargos com as lojas são enormes e a crise induz danos. Em seu lugar, surgem e desaparecem, quais cogumelos - estas no espaço comum e obviamente de arrendamento mais em conta - bancas temporárias de venda de plantas, tupperwares, gravatas, sapatos de crianças, bordados, quinquilharia. Vi qualquer coisa assim, em Marrocos.
4. No supermercado do bairro, vitorioso sobrevivente do C.C,. pelo menos por ora, as marcas brancas substituem lenta e quase imperceptivelmente as marcas tradicionais. Primeiro, passam para a prateleira mais baixa, longe do ângulo de visão do consumidor; por fim, desaparecem de todo. É assim que as bolachas Maria da "Triunfo" dão lugar a "bolachas Maria com leite" marca branca, e que se há iogurte de sabor a banana e morango marca branca, desaparece o mesmo sabor da Danone. Compreendo, adiro, mas...
5. Há três meses, abriu uma loja chinesa mesmo aqui em frente. Um pouco mais abaixo, há mais quatro, pelo menos que eu conheça. Todas enormes, florescentes, cheias de coisas nenhumas, abertas em dias e horas inacreditavelmente penosos. China (came to) town.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário