Pudor governativo


A ministra da justiça, Paula Teixeira da Cruz (logo falo de um dos membros do governo que me merecem mais credibilidade, ele há azares) reconheceu ontem à Antena 1, que muitos casais, se ambos funcionários públicos, são levados à insolvência por de repente terem ficado com menos quatro salários anuais.

Lamenta-o, mas justifica-o com a bancarrota do país, aproveitando para alertar (inquietando obviamente outras tantas famílias à beira da insolvência pelo mesmo motivo) que a reposição dos subsídios mesmo depois de 2014 depende do evoluir da crise internacional, ou seja, de tudo e mais alguma coisa.

Parece-me uma evidência que a falta de alternativa a ver famílias caírem em insolvência por aquele motivo há-de ter limites, nem que sejam os do pudor governativo, que deveria prevalecer para lá estado de emergência não declarado em que vivemos.

Por outras palavras, pergunto-me se ao Governo, numa utilização consequente das suas múltiplas bolas de cristal - manifestamente há uma por ministério e com a sua personalidadezinha muito vincada -, que lhe permitem prever que o corte de subsídios está para durar cada vez mais, não lhe competiria criar medidas que evitassem a insolvência de sucessivas daquelas famílias.

Começa a saturar ver membros do colectivo que governa o país a produzirem declarações nos media e sabermos que, de seguida, quais comentadores políticos, arrumam as suas coisas e vão tratar de outros assuntos, como se aqueles de que acabaram de falar lhes não dissessem respeito, ou ao Executivo que integram.

2 comentários:

io disse...

iacumcaneco! Ah Valente! Muito, muito, muito bem. É um despudor, um despudor desmedido o que se está a passar. Já deram por ela, já perceberam e não são capazes de fazer um mea culpa e voltar atrás. Contra mim falo que estou no privado: mas caramba um imposto anual a cada um dos portugueses era uma lixadela mas era equitativo. Agora isto? Aproveitar a má vontade que existe contra os funcionários públicos para os lixar desta maneira indecentes, fazendo por esquecer que são pessoas, seres humanos, com filhos e encargos e VIDA. Isto é aviltante, aviltante, aviltante. E o povo dorme. Dorme. Dorme.
E é como dizes: saem-lhes da boca estas evidências e nem se tocam.

antuérpia disse...

É, querida Io, é isso mesmo. Como é possível falar-se impassivelmente como se cada pessoa tivesse várias vidas para viver, e os políticos e a banca não fossem co-responsáveis pelo que está a acontecer a essas pessoas? Os insolventes e os seus filhos dificilmente vão conseguir voltar a colocar a cabeça fora de água e isso é muito injusto.