Vida fora de moda


Foi despedida. Chegou a casa, pendurou a vida no cabide e predispôs-se a esperar cinco anos até que as contas públicas do país se equilibrassem. Tinha 53 anos e acabara apenas o segundo ano do ciclo. Fez as contas. Nessa altura teria 58 anos, o filho nunca teria acabado a faculdade e a filha nem lá teria entrado. A pequena  trabalharia numa loja, em Londres. O rapaz, num restaurante fast food/fast to let you go, em Lisboa. Fez mais contas. O Banco, ao qual devia pagar a prestação mensal da casa, não esperaria cinco longos anos pelo emprego que já ninguém lhe daria com aquela idade.

Olhou para o cabide e para a vida pingona e coçada que ali acabara de pendurar. Fora de moda. A sua vida estava fora de moda. Dobrou-a cuidadosamente, abriu a mala das viagens que não faria mais, e colocou-a lá dentro. Sentou-se em cima da mala e esperou que sufocasse.

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