Um bom queixume
Os ingleses elogiam o valor terapêutico de um good moan. É quando se desabafa e deita abaixo tudo aquilo que nos irrita e complica a vida, com o exagero e a delonga que se quiser, diante uma pessoa que é empática e boa ouvinte, compreendendo e concordando com a mais breve das expressões, sem jamais interromper.
Num exemplo desse queixume que, quando finalmente chega ao fim, alivia quem se queixou, uma colunista inglesa acusava o sexo masculino de ser incapaz de desempenhar o papel de ouvir e achar horrível o que ouve. Enquanto as mulheres encorajam a exposição do problema e não saem dali enquanto ele não for exausto, os homens, numa aflição histérica e maldosamente atribuída às mulheres que temem, atropelam-se para interrompê-las, oferecendo soluções práticas para o que nem sequer finge não ser de natureza metafísica.
Aquele bom queixume é um problema. Mas o que torna o queixume bom é não ter solução. Um good moan não é um pedido de ajuda (os homens sofrem, com delícia, da ilusão que podem ajudar não só os outros homens como as mulheres): é uma invocação de solidariedade, com base na certeza existencial e irrefutável que diz: "Tanto poderias ser tu, como agora sou eu."
Os ingleses e as mulheres têm razão. Das mulheres inglesas, então (como a minha Mãe) nem se fala. Ouve-se apenas. E aprende-se. Tanto aprendemos a sabermos ficar calados quando se queixam, como aprendemos a queixar-mo-nos - haja ou não haja solução. Ou ouvintes.
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