Dias de alheamento


Do Editorial do jornal "Público", de 14.06.2012

"(...) A espiral da crise tornou-se rotina e, como tal, deixou de nos sobressaltar. O discurso em torno do colapso tornou-se tão banal como as cimeiras anunciadas como a "última oportunidade" cujo sentido de emergência dura uns dias até à convocação da cimeira seguinte. Como na conhecida obra de Erich Maria Remarque sobre a frente ocidental na I Grande Guerra (A Oeste Nada de Novo), a tragédia europeia acomodou-se ao quotidiano, aos apontamentos avulsos dos políticos, aos avisos graves dos especialistas aos quais a cidadania cansada e desesperada pela inacção já não reage. A crise é hoje uma forma de vida europeia tão normal como qualquer outro acto do dia-a-dia. Esta apatia, porém, tornou-se tão perigosa como a crise real. Um dia, os custos da paralisia política, da falta de visão e da irresponsabilidade de líderes incapazes de construir um destino poderão chegar numa factura excessivamente pesada. Aí talvez seja possível constatar como estes dias de alheamento também ajudaram à catástrofe."

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