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KAL's cartoon - The Economist - 26.05.2012 |
Os alemães, os holandeses, os finlandeses vivem bem com pouco? Os franceses, os portugueses, os gregos, os espanhóis, os italianos só vivem bem com muito? A resposta do cartoonista é óbvia nas expressões dos bonecos, e fará sorrir os países do sul: vive-se bem com pouco, sim, mas não se é lá muito feliz.
Austera, comendo apenas uma salsicha e sem mordomias, A. Merkel ostenta um ar mais mal-disposto que F. Hollande. Este, apesar de comprometido sob o olhar acusador da chanceler alemã, parece faustosamente de bem melhor com a vida.
Cartoon à parte, dei comigo a pensar se, no afã da poupança, os eficazes povos do norte não serão de facto felizes apesar de viverem com pouco. E posso com facilidade admitir que sim, porque se trata de um esforço bem sucedido feito de bons hábitos de trabalho e organização, empenho, tradição, religião, espírito de austero sacrifício, seja o que for.
E a partir daqui foi um saltinho: mas se são felizes, não será porque, apesar de tudo, vivem com "o pouco" à alemã/sueca/dinamarquesa? Viveriam igualmente bem com "o pouco" à portuguesa ou à grega?
É que, paradoxalmente, por muito que se simpatize com o paradigma, há que reconhecer que é um ideal de países ricos: ao absurdo, "viver bem com pouco" na Alemanha, na Holanda ou na Suécia será sempre viver muito melhor do que seria viver com bastante mais até, por exemplo, no Bangladesh.
Em Portugal, pode ser um exercício redentor para famílias que, apesar de tudo, conseguem manter a cabeça à tona de água; não é, porém, aplicável às de menores recursos, supremamente afectadas pelas crises que assolam as nações periféricas da Europa.
Em países falhos de sólidas instituições de welfare state, serviços comunitários bem organizados e eficientes transportes públicos, como é o caso de Portugal ou da Grécia, para os menos favorecidos "viver com pouco" dificilmente será sinónimo de "viver bem". Será provavelmente, e ao invés, o regresso a níveis impensáveis de mera sobrevivência.
E isto pelo menos até que, daqui a muito tempo e à custa do sacrifício, quem sabe, se de muitas vidas até, as economias desses países ganhem músculo que finalmente permita àqueles menos favorecidos viverem bem mesmo que com pouco.
E isto pelo menos até que, daqui a muito tempo e à custa do sacrifício, quem sabe, se de muitas vidas até, as economias desses países ganhem músculo que finalmente permita àqueles menos favorecidos viverem bem mesmo que com pouco.

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