Gramática "interpretativa" não obrigada!


A " Gramática de Língua Portuguesa" dirigida por Maria Raquel Delgado-Martins da Editora Caminho, de que falei no post anterior,  é um conjunto de textos de vários linguístas, decididamente aconselhável a uma "directa" : faz crescer em nós uma irritação com a nova gramática que não nos deixa descansar.

Enquanto passava as suas páginas, só me perguntava como é possível que se haja pensado seriamente em normativizar conceitos e distinções que preferem recorrer a "universos de referência",  "argumentos internos e externos",  "obliquidades" de cornocópica origem, a promover a generalização e abstracção própria de qualquer sólido sistema normativo?

O problema não está tanto, perdoe-me Teolinda Gersão (quem sou eu!!), em ter sido complicada  a norma gramatical, leia-se as regras de funcionamento da língua, mas sobretudo no facto de se ter optado por regras que, por serem essencialmente interpretativas, perderam as suas características gerais e abstractas e, consequentemente, um qualquer aceitável grau de perceptibilidade.

Para ilustração do que acabo de dizer, transcrevo um excerto de fls 70 e 71 daquela obra (texto da autoria de Isabel Hub Faria): " (...) Durante séculos pensou-se que, para comunicar, bastava a existência de um modelo que assegurasse a codificação e a descodificação de mensagens, admitindo assim que toda a informação relativa a uma mensagem estava nela explicitamente contida. Só recentemente se considera que a interpretação é ela própria geradora de sentidos, uma vez que pode fazer uso de mecanismos inferenciais (...)".

Temos portanto uma gramática interpertativa e inferencial.

É curioso: anda tudo preocupado em impor um acordo ortográfico para manter a relevância da língua portuguesa no mundo. Alguém responsável já se quedou a pensar no quanto esta nova abordagem do funcionamento da língua portuguesa pode afastar os falantes de português no mundo, e os estrangeiros da aprendizagem da nossa língua?

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