"Peço desculpa"


Fiz há pouco um exercício divertido: googlei a frase "pede desculpa" e obtive milhares de resultados.

Este fenómeno global das sociedades democráticas (abjectos regimes autoritários nem para este comentário contam, bem entendido) de se dizer, fazer, mandar fazer, perceber que se fez contra as nossas ordens, ou ao sabor do nosso desleixo ou distracção, graves dislates que seria bem melhor que não tivessem sido ditos ou feitos, - de que são exemplos, Bush e os abusos cometidos por soldados americanos sobre detidos iraquianos, o rei de Espanha e a matança dos elefantes, Christine Lagarde e as crianças gregas, Relvas e o Público (mas há tantos mais!) - e logo a seguir apenas pedir desculpas públicas, não será um exercício perfeitamente pueril se levado a cabo por pessoas com responsabilidades nacionais ou mundiais?

Antigamente, ficava para a História quem pedisse desculpa na firme intenção de assumir as consequências do pedido. Se Egas Moniz não se tivesse apresentado a D. Afonso VII de Leão e Castela, com a família, todos com uma corda ao pescoço, e apenas tivesse pedido desculpas pelos actos de rebelião de D. Afonso Henriques - ou se pelo menos a lenda não fosse essa - alguém recordaria o episódio? Foram os baraços que lavaram a honra de Egas Moniz, não o pedido de desculpas.

Hoje em dia, como a honra do seu titular parece beneficiar da condição inatacavelmente imaculada do cargo público que ocupa, e não o inverso, e na frenética tentativa de não se entrar para a História pelas piores razões, começa por se pedir desculpas publicamente, e depois acende-se uma vela para que alguém faça uma asneira ainda maior num período inferior a dois dias - o que é uma consabida probabilidade no mundo mediatizado em que vivemos.

Por fim, o que foi dito ficou dito, o que foi feito ficou feito, mas como já não se fala do assunto pervalece a  consoladora convicção, pelo menos por algum tempo, de um redentor rewind. E todos aos seus postos.

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