Deitar conversa fora
Os brasileiros usam a expressão deliciosa "deitar conversa fora" que, só de ouvir, dá logo vontade de correr buscar umas caipirinhas e umas espreguiçadeiras confortáveis.
Esses senhores do outro lado do atlântico são muito mais criativos que nós, no que respeita a imagens para expressão de conceitos que usem o tempo. Este em concreto, aproximando-se dos nossos "falar só por falar" ou "as palavras são como as cerejas", tem uma conotação medida pela disponibilidade para uma conversa preguiçadinha, sem ordem de trabalhos ou prazo marcado, própria dos serões na província.
É uma conversa destinada a acabar, ou suavemente num soninho que embale, ou servindo de amuse bouche a um jantar delicado por onde acabe por se esgueirar acelerando o seu ritmo e crescendo em entusiasmo, ou até apenas numa vontade indefinida de a repetir.
"Deitar conversa fora" é como escrever ao correr da pena, com a vantagem de haver um interlocutor. O que nos lembra agora e o que nos esqueceu de contar noutras alturas. É uma interactividade saborosa, um jogo praticamante sem regras que não sejam a vontade de estar com quem estamos, de ouvir e dizer o que nos ocorre, divagando ou discorrendo sobre o que nos apetece.
Numa conversa assim, qualquer brisa está autorizada a mudar o seu rumo, ou a trazer o mesmo assunto de volta cinco minutos ou duas horas depois. Ou até mesmo nunca mais.
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