"Um leão vendo-se enfermo
Passa o aviso a seus vassalos
De que à vida vai pôr termo.
E que intenta aconselhá-los
Sobre a regência futura,
Dar-lhes beija-mão, e honrá-los
Dos leões à fé lhes jura
Que trata bem qualquer fera
Que o visita e procura:
Porém na furna as espera,
E quando alguma entrar ousa,
Logo a mata e dilacera.
Eis uma esperta raposa
pára e diz, sem que entre lá:
«"Chau" que observo uma coisa!
Pegadas mil aqui há;
Mas para lá todas vão,
E nenhuma para cá;
Saúde, Senhor Leão!
Quero-me à glória eximir
De beijar-lhe a régia mão,
Porque jurei jamais ir
A qualquer casa ou lugar,
Vendo só por onde entrar,
E não por onde sair.»
Foi reflexão mui subida
Esta que fez a raposa;
Que é loucura desmedida
Entrarmos em qualquer coisa
Sem vermos se temos saída."
"O leão doente". In "La Fontaine -Fábulas". Temas&Debates.Trad. Curvo Semedo.
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