Um eterno conto moral

Um amigo meu comentava aqui há uns dias que não cessava de se surpreender com a natureza humana, na sua capacidade tantas vezes revelada numa só pessoa, de se ser bom e o mau, excelente na vida profissional e um desastre na pessoal, cruel e generoso, implacável e dolorido, maduro e irreflectido, lúcido e desconexo, tudo como se de um dois em um se tratasse. E isto, acrescentava, sem que o próprio tivesse noção das manifestas contradições da sua personalidade.

A Nathional Geographic, na sua versão portuguesa, traz este mês um artigo muito curioso intitulado «Herodes - construtor visionário da Terra Santa» que me recordaram estas palavras.

Pode ler-se a certa altura: «O Herodium poderá ter representado a cidade ideal concebida por Herodes na sua mente, cujo bom ordenamento, edifícios apalaçados, colunatas e sistemas de aspersão de água criavam o ambiente de calma e tranquilidade que provavelmente ele almejava para todos os outros lugares(...) Toda esta beleza gerada por um homem que matou a mulher e os filhos, torturou cortesãos e passou longos meses mergulhado num estado de loucura balbuciante!».

Não há dúvida de que não há pior carrossel, menos seguro e credível do que nossa própria personalidade. Tenho, todavia, por certo também, que constitui nossa responsabilidade ética, pensá-la, controlá-la, moldá-la por forma a que o seu lado negro não prejudique os outros para além dos mínimos aceitáveis.

Será uma visão intolerante da vida como um eterno conto moral? Será, seguramente. Mas não sei como olhar quer a minha, quer as dos que me são/eram/serão queridos, de outro modo.

Legenda da imagem:
Giotto - A matança dos inocentes

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