«(...) Esta paralisia partidária, este anquilosamento não pode perdurar. Os partidos não podem ficar bloqueados na imagem pública de que servem o carreirismo, o tráfico de influências, os interesse privados que são condutores de corrupção (...)» . São José Almeida in Público de 2.05.2009.
A questão é que este trilho parece assustadoramente irreversível, num país cujas elites - se e quando existem - desprezam a causa pública, como um casal despreocupado com a fenda aberta do lado do barco que não o seu.
Prevalecendo-se da boa formação que os pais lograram pagar-lhes, mergulham quais Tio Patinhas nos seus cofres de moedas - ganhos com o seu suor, dê-se de barato -, ou nos seus profundos conhecimentos que acabam por «vender a outros Estados», para virem ao de cima apenas para «lançarem alertas», porventura até para formarem efémeros movimentos cívicos que pouco os comprometam, mergulhando depois nas suas vidas que têm sempre por superiores.
Se estivesse no lugar deles, faria porventura o mesmo, que fique claro. Não teria paciência para a mediocridade, caciquismo e mesquinha maledicência, hoje subjacente em todo e qualquer partido português.
A decadência dos sistemas partidários já num outro momento histórico de má memória - mais concretamente na Europa entre as duas guerras mundiais - deu lugar a perigosos movimentos supostamente acima dos «interesses partidários», falhos de programas e de causas que não o seu ódio ao Estado que responsabilizavam por ter gerado, precisamente, partidos fracos e anquilosados, o que importa não repetir atentos os resultados.
É que, goste-se ou não, o sistema de representação através dos partidos é aquele que até hoje revelou maior eficácia democrática. Até se descobrir um melhor, seria bom que as elites abandonassem as suas arrogantes tocas, e se dessem um pouco à causa pública, por via do sistema partidário e da representação parlamentar.
Não basta pensar que se não é um Zé Ninguém e que, se Portugal está pejado deles, buçalmente entretidos com insuportáveis telenovelas e programas televisivos de humor dito popular como «Os malucos do riso» e o «Está a gravar», ou/e de gente medíocre degladiando-se nas sedes dos partidos a dividir cargos públicos, não merecem uma gota do suor dos que deles são supostos diferenciarem-se.
Pensar assim é ser tão pequeno de espírito como eles. A grandeza dos homens sempre se mediu pelo seu impulso solitário para a mudança, para a alteração do que está mal, independentemente do reconhecimento público que é susceptível de gerar.
O mal de Portugal não reside, portanto, nos seus Zé Ninguém, no seu prazer pela informação «emocional» e populista, nas suas preferências maioritárias pelo mau gosto em geral, mas no «baixar de braços» das elites perante essa inextrincável teia de gosto duvidoso e interesses pessoais.
A decadência dos portugueses constatável desde há muito, mas hoje em dia reforçada pelo peso dos «media» deficitários de conhecimentos e abarrotados de informação negligenciável, reside, ao invés, naqueles que, nascidos para serem pessoas maiores, se deixam paralisar pelo receio da falta de reconhecimento público daqueles cujo gosto buçal e profundamente consumista e/ou ânsia por imerecidos cargos públicos, lhes estaria destinado abolir, através de pacientes acções sábias, desprendidas, autónomas nos seus valores e princípios, e isentas nas suas conclusões.
Não reconhecer isto parece-me corresponder a insistir em pedalar uma bicicleta sem correia e sem travões, que levará o país a despenhar-se na primeira ribanceira que lhe apareça.
Sem comentários:
Enviar um comentário