Aqui há uns tempos e, também a propósito do cartão de cidadão, relataram-me uma história inqualificável.
Uma amiga minha, também com um filho menor, precisou de tirar com urgência o dito cartão para o miúdo. A Loja do cidadão pejada de gente (cem pessoas à sua frente, se não estou em erro), dirigiu-se ao edifício das Conservatórias do Registo Civil, na Fontes Pereira de Melo em Lisboa. Não sei por que critério lá escolheu uma, mas descobriu que no disponibilizador de senhas faltava aquele que deveria ter a menção «cartão de cidadão».
Dirigiu-se, portanto, à senhora que se encontrava à porta da conservatória e questionou-a sobre o assunto: as senhas eram dadas ali, pessoalmente. Muito bem, então queria uma. É para si? Não, para o meu filho. Olhou a criança de cima abaixo. Ah, então está bem. E entregou-lhe a senha...número três. Seriam cerca de onze e meia, meio-dia, e a minha amiga estranhou, mas congratulou-se pela sua esperteza. Coitados daquele que, na Loja do cidadão, desconheciam esta possibilidade.
Sentou-se, aguardando a sua vez e, sem mais nada com que se entreter, observou a senhora. A cada utente que se aproximava, com as mesmas questões que ela própria levantara, a funcionária perguntava invariavlemente, «é para quem?». Sobretudo pessoas de mais idade que respondiam ser para elas, dizia enfadada, «já fechámos as senhas para hoje».
Os utentes, desalentados, voltavam costa e ela comentava quando já não a podiam ouvir: «pffff...cartão de cidadão, não queriam mais nada, há tantos lugares onde irem...».
A minha amiga percebeu, então, o segredo da senha número três, às onze e meia da manhã. Simplex.
Sem comentários:
Enviar um comentário