Um casal improvável

Tolera temperaturas abaixo dos - 40º C, mas uma pequena geada no decurso da floração inviabiliza o seu fruto. Valente e frágil a um tempo, chamamos-lhe amora árctica, mas se traduzíssemos à letra, do inglês, teria o nome de "baga de nuvem", cloudberry, que a sua forma justifica, presumo.

Depois de madura, perde a cor avermelhada, ganhando o amarelo do sol provavelmente desmaiado que a alumiará no árctico.

É um fruto dos pântanos árcticos, rico em vitamina C, relativamente raro e apetecido na Suécia, onde lhe dão o nome de Sylt Hjortron.

Dele se fazem licores e compotas. A compota, doce, ácida e requintada, é também aconselhada para servir com carnes. Adquiri-a numa loja sueca - de que nem preciso enunciar o nome - enquanto procurava as suas, também deliciosas, bolachas de gengibre, inebriada pela descrição poética da amora do árctica, suas características e história, constante do panfleto de promoção.

Esta manhã, casei-a com um pouco requeijão de Seia. Descobri assim um amor distinto e soberbo, raro porque resistente às intempéries e disponível para toda a vida (pelo menos enquanto o aquecimento global não induzir uma separação involuntária), unindo a árctica Suécia ao mediterrânico Portugal.

Imagem: Amora árctica - Wikipédia

2 comentários:

PV disse...

Já tínhamos namorado essa compota na loja cujo nome não precisa ser enunciado. Se é tão recomendável, da próxima vez não nos escapa.

antuérpia disse...

Espero não ter inflacionado as vossas expectativas. Mas é, de facto, muito agradável.